A COP-30, realizada em Belém do Pará, acabou como começou: seguimos em direção a um colapso ambiental. Os governos e as empresas realizaram uma Conferência desse tamanho para encontrar a melhor forma de continuar destruindo o planeta.
Entre muitas resoluções destaca-se a de manter o limite do aquecimento do planeta abaixo de 1,5°C comparado ao período pré-industrial (entre 1850 e 1900).
Esse limite foi deliberado nas COP’s anteriores mas sem medidas concretas para alcançar a meta e que em 2024 a temperatura média do planeta já estava em 1,55°C, conforme informa a Organização Meteorológica Mundial.
E tende a piorar, segundo pesquisas, em 2030 vai passar de 1,5°C e de forma irreversível.
Em relação ao controle sobre os combustíveis fósseis que representam 80% das emissões de gases do efeito estufa responsáveis pelo aquecimento do planeta e sobre a redução do desmatamento as resoluções finais da COP30 não fizeram nenhuma diferença.
É em base a esses processos que muitos analistas avaliam que o Acordo de Paris – um tratado internacional que compromete os países a limitar os aumentos da temperatura global – está sob ameaça e enfraquece ainda mais qualquer ação sobre a mudança climática.
Por que as propostas não avançam?
Muitos movimentos ambientalistas tratam esses fracassos como “má vontade” de um ou outro governo como se fosse apenas uma questão a ser resolvida no campo político ou moral.
Por óbvio que esses problemas existem – como o boicote de Trump à COP30 em Belém – mas não são os principais.
O principal obstáculo para a solução dos problemas ambientais é a forma como o sistema capitalista (a burguesia e seus governos) explora as riquezas. Esse é um sistema que, necessariamente, utiliza a natureza muito mais do que ela pode gerar e regenerar. O capitalismo para se autovalorizar precisa a cada ciclo produzir mais que o anterior e o sistema entra em uma rotação sem fim, consequentemente, a extração de recursos naturais também é sem fim. Ou seja, quanto mais “crescimento do capitalismo”, mais destruição.
E como o capital está em crise, que chamamos de estrutural, tenta solucioná-la ativando vários mecanismos destrutivos, como produtos com vida útil menor, inúteis, com uma imensa produção bélica que, nos processos de consumo, ampliam os problemas ambientais.
Dessa forma, a destruição da natureza se torna permanente e acelerada.
Junto com essas questões objetivas também deve ser considerado o crescimento e o peso da extrema-direita mundial que é destrutiva e negacionista, pois finge não ver a profunda piora das mudanças climáticas, segue investindo na destruição com os capitalistas que atuam nos ramos mais agressivos contra a natureza.
Nesse sentido, a ação política da maioria dos setores industriais também contribui para os retrocessos.
Dos mais de 40 mil inscritos nesse evento, uma das maiores delegações foi a de 1602 lobistas da indústria fóssil, de empresas de carvão, gás e petróleo, ou seja, as maiores poluidoras. Essa ação foi decisiva para limitar a ação contra os combustíveis fósseis a um “plano voluntário que seria relatado no próximo ano”.
Enquanto lobistas circulavam livremente pelos salões, os povos originários foram excluídos das negociações e, inclusive, foram reprimidos.
Como disse o pajé Nato Tupinambá, “a COP não está dando espaço. A COP não reconhece a gente. Não escutam os povos da floresta como deveriam. Estão querendo falar por nós, mas só nós que temos que falar sobre nossas dores. Que os rios estão sendo privados para um corredor do agronegócio”.
Enfim, saiu vitorioso quem defende o atraso. Nas Resoluções buscaram postergar qualquer iniciativa para uma transição de combustíveis fósseis para outras formas de energia.
Lula tem discurso, a prática é outra
Lula trabalhava para ser “a maior COP de todos os tempos”. Óbvio que não conseguiu, pois, além das questões acima também prevaleceram os interesses dos setores econômicos mais ricos e destrutivos (petróleo, agronegócio, etc.) do Brasil e do mundo.
Assim, a COP30 terminou como as outras, incapaz de parar qualquer destruição ambiental.
O seu discurso na COP30 não tem nada com a política ambiental de seu governo. Poucos dias antes havia aprovado a extração de petróleo na Foz do Amazonas e trabalhava para pavimentar a BR-319 que corta a Amazônia, abrindo caminho para grileiros, traficantes e madeireiros o que facilita o desmatamento, o avanço da pecuária e a exploração de minérios na região.
Os proprietários do agronegócio faz esse ramo da economia ser extremamente destrutivo com desmatamentos, utilização de defensivos químicos e fertilizantes que poluem, matam a biodiversidade e contaminam rios. Não bastasse, expulsam das terras todos os dias e intensificam as mortes dos povos originários.
Mesmo com esse histórico, esses proprietários foram presenteados com um Plano Safra de mais de R$ 500 bilhões. E o Congresso Nacional – dominado pela extrema-direita e agronegócio – também deu a vergonhosa, e esperada contribuição para derrubar os vetos do governo federal e aprovar uma legislação “abrindo a porteira” para mais destruição ambiental.
Só a mobilização da classe trabalhadora pode mudar o rumo
Nós concordamos com os estudos e com os cientistas que caracterizam a situação ambiental como um processo que caminha em direção a um colapso ambiental, ou seja, uma combinação de várias crises ambientais, como a climática e ambiental.
Analisando os efeitos do aquecimento global, com o aumento da temperatura média do planeta chegando 1,5ºC (em relação aos anos 1850-1900), já podemos identificar vários efeitos no nosso cotidiano. As ondas de calor são efeitos desse aquecimento e estão cada vez mais frequente. Ocorre uma onda de calor quando aumenta temperatura entre 5⁰C e 7⁰C acima da média por, ao menos, cinco dias consecutivos, conforme define a Organização Mundial Meteorológica.
Essa é uma realidade mundial. E no Brasil, apesar dos vários negacionistas afirmarem o contrário, as alterações climáticas também estão se agravando. Segundo o INPE, entre 1961 e 1990, foram 7 dias com essas ondas de calor. Entre 2011 e 2020, pularam para 52 dias ao ano. Em 2023, foram 9 ondas de calor e 8 em 2024. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. Em um aumento de 5ºC em regiões mais quentes a possibilidade de ultrapassar os limites suportáveis pelos seres humanos é maior e com sérias consequências.
A situação é muito grave. Por isso também temos acordo com o professor Luiz Marques de que “temos pouco tempo para agir antes que a situação fique ainda pior do que indicam esses graves prognósticos”.
No enfrentamento ao colapso ambiental não colocamos nenhuma ilusão nessas Conferências Climáticas controladas pelos interesses dos capitalistas e seus governos. A esperança está naqueles que resistem, como as dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas em Belém, nas lutas dos povos da floresta e da classe trabalhadora que lutam contra o avanço do agronegócio, do desmatamento e da extração predatória de minérios. Como dissemos acima, para manter a lógica da produção capitalista a burguesia não adota e não adotará medidas de preservação da natureza.
E a classe trabalhadora urbana de conjunto também necessita compreender que a defesa da natureza e do meio ambiente passa pela luta contra esse sistema e pela construção de uma sociedade que remodele a relação dos seres humanos com a natureza e a necessidade de romper com esse modelo de produção da mercadoria que só dá lucro e não respeita as nossas reais necessidades.




