A educação brasileira vive um dilema cruel. De um lado, o governo anuncia o programa “Pé de Meia” como grande solução para manter os jovens pobres nas escolas e faculdades, depositando um auxílio de R$ 200/mensal para os estudantes das redes públicas. A medida também tomou como partida o incentivo à profissão docente aos estudantes de licenciaturas do ensino superior que ingressaram na faculdade até o ano passado, onde será depositado um auxílio de R$ 700/mensal. A medida assistencialista efetivamente auxilia as necessidades imediatas, todavia não garante um plano futuro profissional a esse jovens e muito menos um ensino público de qualidade para concluir sua profissionalização. Em contrapartida, a contradição da assistência não é em si o seu imediatismo, mas sim os passos seguintes efetuados pelo governo federal para a educação.
Somente no primeiro semestre do ano vigente, além do governo federal implementar o programa “Pé de Meia”, o mesmo congelou R$ 31,3 Bilhões de verba da educação, afetando principalmente os IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) que a anos sobrevive por aparelhos em fator a todos os cortes orçamentários efetuados nas últimas décadas. Mediante a isso, as reitorias das universidades comunicaram ao corpo social das instituições que iriam funcionar com 1/18 mensalmente até novembro. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a reitoria fez o comunicado informando que “serviços não-essenciais seriam paralisados, entre um deles era a compra de gasolina para os ônibus universitários que cumpre a função essencial de locomoção dentro e fora da Cidade Universitária. A contradição está posta! Mesmo depois de revogar o contingenciamento no dia 26/05/2025 e propor a recomposição orçamentária de R$ 400 Milhões para as IFES, o saldo não se acertou em relação ao histórico de cortes.
Em toda essa contradição a medida tomada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) diante aos ataques à educação, é se contentar com o Pé de Meia considerando-o conquista estudantil, sem tensionar a política do governo federal que mantém o Teto de Gastos e o Arcabouço Fiscal, sendo então cúmplice da atuação do governo federal. A entidade se encontra distante e o seu silêncio acerca do que realmente afeta os estudantes corrobora para a desmobilização dos mesmos. A UNE que um dia mobilizou multidões contra a ditadura hoje é uma desconhecida: 71% dos universitários não sabem quem é seu presidente. Enquanto estudantes organizam vaquinhas para ajudar colegas em dificuldade, a UNE gasta milhões em uma sede suntuosa em São Paulo. Enquanto coletivos negros e indígenas lutam por cotas e assistência, a direção da entidade faz workshops patrocinados por bancos. E quando governos aliados cortam bilhões da educação? Maquia com a organização de um ato, onde prevalece a sua burocracia, sem pautar a política neoliberal que o governo Lula, seu aliado, executa para a educação.
O Pé de Meia é a mais nova cortina de fumaça de um Estado que se recusa a enfrentar as causas reais da evasão estudantil. Enquanto o programa é vendido como “oportunidade”, esconde-se que 72% dos jovens deixam as aulas porque precisam trabalhar, muitos em subempregos que mal pagam o transporte. R$ 200 não resolve a fome que atrapalha o aprendizado. É uma esmola que serve, na verdade, para maquiar a ausência de políticas sérias e transferir para o indivíduo a culpa pelo fracasso do sistema capitalista que se mantém da miséria da classe trabalhadora.
A UNE atual representa a domesticação das lutas de classe. O primeiro, com seu assistencialismo que finge ajudar enquanto mantém intacta a estrutura de privilégios. Segundo, com sua burocracia que trocou assembleias combativas por acordos de gabinete. O caminho não está em reformas nem em entidades esvaziadas. Está na reorganização de um movimento estudantil que volte a enfrentar as perguntas que assustam os poderosos: Por que não taxar as grandes fortunas para financiar educação de verdade? Por que aceitar que universidades públicas tenham menos verba que o marketing de bancos? Por que conformar-se com migalhas quando é possível exigir o pão inteiro? A história mostra que direitos nunca foram concedidos, sempre foram arrancados.