As manifestações da extrema direita ocorridas no início de agosto que pediram anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023, atacaram Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Alguns milhares foram reunidos em poucas cidades, bem abaixo do que historicamente este setor conseguiu levar para as ruas.
Mostraram, entre outras coisas, que o ‘movimento bolsonarista’ está em tentativa de reorganização. Chamou a atenção a ausência de possíveis sucessores dentro do campo do bolsonarismo, como os governadores Zema (MG), Caiado (GO), Ratinho Jr. (PR) e Tarcísio de Freitas (SP).
As semanas anteriores revelaram um momento de certa crise e fragmentação na extrema-direita brasileira, em especial no campo bolsonarista e na família central de tal corrente política.
Até então, o ex-presidente Jair Bolsonaro ocupava uma posição frágil e isolada, o que se agravou com o anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ficou evidente o papel desempenhado por Eduardo Bolsonaro como um dos articuladores das sanções econômicas e, possivelmente, tentando ocupar espaço como uma nova liderança da extrema-direita.
A temperatura política no Congresso Nacional indicava um momento de retração para o bolsonarismo institucional. Um exemplo é a quantidade de bolsonaristas fora das urnas em 2026, por inelegibilidade ou prisão. Além do ex-presidente, também figuram Carla Zambelli, Pablo Marçal, Braga Netto, entre outros. O enterro simbólico do projeto de Lei da Anistia, antes tratado como prioridade por setores da base bolsonarista, marcou o esvaziamento definitivo da principal bandeira legislativa do grupo neste ano.
Nos últimos dias o que temos visto é a aceleração dos tempos da política como a principal marca da nova conjuntura. Justamente a tentativa de ingerência imperialista, por parte de Trump, acelerou os ritmos dos acontecimentos. Medidas mais duras e restritivas do Judiciário começaram a se colocar contra Jair Bolsonaro: primeiro a tornozeleira, depois a prisão domiciliar por desrespeitar medidas cautelares.
Um fator passou a preocupar lideranças do PL (atual partido da família Bolsonaro): a circulação de notícias na imprensa que colocam Hugo Motta e o Alcolumbre no radar de possíveis sanções internacionais.
Bolsonarismo não deve ser desprezado!!
No pano de fundo, pode estar em curso um novo ciclo de reconfiguração das forças políticas da direita no Congresso. O bolsonarismo, outrora com protagonismo absoluto, agora enfrenta as consequências do aumento do isolamento institucional, em função do tarifaço. A aposta em estratégias de confronto, como a anistia, a retórica anti-STF, conforme demonstrado recentemente na ocupação no Congresso Nacional, mostra sinais de divisão. Por exemplo, figuras como Ciro Nogueira condenaram o ato, procurando marcar uma linha entre “radicais” e “moderados” do campo de extrema-direita. Por outro lado, bolsonaristas afirmam que pautarão as PEC’s das Prerrogativas (foro privilegiado”) e da Anistia.
A articulação política do “centrão”, especialmente figuras como Hugo Motta, tende a se distanciar ainda mais de qualquer associação direta com o núcleo duro do bolsonarismo e não apenas por cálculo político, mas também por uma crescente percepção de risco institucional. Nada impede que mais adiante haja um recálculo da rota a depender dos interesses da burguesia nacional: não nos esqueçamos de que o “centrão” os representa, assim como os demais setores da direita.
Exemplarmente, se diferentes setores da burguesia nacional passarem a vislumbrar a necessidade de um governo mais alinhado com Trump, Bolsonaro e seus aliados podem ganhar um novo fôlego e se reposicionar para objetivos maiores. Fica muito evidenciado que o bolsonarismo se coloca como uma linha auxiliar dos interesses dos Estados Unidos no interior do território brasileiro, algo que precisa ser combatido nas ruas e nas lutas.
Apesar de tudo isso, a força do bolsonarismo não deve ser desprezada. Se ocorre um relativo enfraquecimento não devemos confundir com a debilitação do conjunto da extrema-direita. Esta segue com muito fôlego eleitoral e pode construir alternativas que recomponham as forças no campo da direita. O bolsonarismo faz parte deste campo e não foi expulso do “jogo” da polarização política.