No dia 13 de junho Israel lançou um forte ataque aéreo contra vários pontos do território iraniano, alegando que buscava a destruição do arsenal atômico, o qual colocaria em risco a existência de Israel. Um argumento hipócrita, primeiro porque Israel tem um grande arsenal atômico: segundo, é a existência de Israel – que nasceu a partir da invasão e ocupação das terras palestinas- um grande perigo para os povos da região. E, terceiro, porque Israel não foi atacado pelo Irã. Os bombardeios que, além de pessoas chaves do regime, assim como em Gaza, tiveram como alvo os civis e, naquilo que vai se tornando uma especialidade israelense, dezenas de crianças.
Há um histórico de intervenção israelense sobre o território do Irã, o que incluiu vários atentados, assassinatos de cientistas e até do chefe do Hamas, além de vários bombardeios contra instalações nucleares. É preciso entender e localizar politicamente esses ataques nessa atual conjuntura. Diferente do discurso israelense, essa ofensiva é parte de um plano de consolidação do seu poder político e militar e está relacionada à ampliação da ocupação em terras palestinas e buscando ser a potência dominante na região, principalmente depois da queda do regime sírio e das operações que realizou no Líbano contra o Hezzbolah, provocando danos significativos na estrutura do grupo. A ideia central é fragilizar as forças de oposição na região.
Israel e Irã tem regimes políticos diferentes, mas ambos são países capitalistas. São dominados por uma classe burguesa que se mantem graças à exploração sobre a classe trabalhadora de cada país. Por cima da aparência, ideologicamente ambos têm muitas semelhanças e, assim sendo, nenhum dos dois regimes serve aos interesses das classes trabalhadoras.
Israel é liderado pela extrema-direita e pelos fundamentalistas sionistas que tem a ação militar contra os palestinos como prioridade e, hoje, aplicam um plano em andamento para destruir Gaza. Continua expulsando palestinos de suas terras para assentar colonos israelenses e mantem na prisão mais de 10 mil palestinos: centenas são crianças e adolescentes. Tem como prática bombardear, além do Irã, outros países da região, como Síria, Iêmen, Líbano e Iraque. É um Estado com fortes elementos religiosos.
Irã é governado por uma aristocracia fundamentalista do islamismo e tem a Sharia (normas jurídicas) que é uma leitura bastante reacionária do Alcorão. Por conta dessas leis as mulheres são bastante perseguidas, como foi com a jovem Mahsa Amini em 2022, morta após ser presa pela polícia da moralidade por não usar corretamente o véu. Também podemos destacar a perseguição contra os curdos que lutam por sua independência.
Os demais países árabes da região há um bom tempo estão em um processo de reconhecimento do Estado israelense e de aproximação política. Já são 20 meses de ofensiva genocida sobre Gaza sem qualquer oposição séria das burguesias desses países: no máximo assistimos declarações vazias. Nos ataques sobre o Irã, também não passaram de lamentações e pedidos de estabilidade política na região que, na prática, significa apoiar Israel. Também colaboram em várias questões, como a Jordânia abrindo seu espaço aéreo para Israel abater os drones iranianos antes de chegarem ao território israelense.
Israel é um posto avançado do imperialismo estadunidense no Oriente Médio e recebe apoio militar e financeiro dos Estados Unidos. A declaração de Trump de que não sabia da ação israelense tem pouca chance de ser verdadeira, mas revela que, nesse momento, Trump está preocupado com a ampliação dos conflitos militares na região porque dificultaria as negociações e os acordos com os demais países da região que é parte do enfrentamento aos problemas relacionadas à China (com forte atuação na região).
Na tradição revolucionária, os povos oprimidos têm todo o direito de se rebelarem e organizarem as guerras de libertação nacional: é um direito universal. Assim, nos casos de guerra popular e de libertação, independente de “quem começou primeiro”, apoiamos os países oprimidos. São as “guerras justas”, como Lênin dizia.
Nos casos de agressão de um país imperialista ou de um a serviço do imperialismo também ficamos ao lado daquele que sofreu a agressão. Nesse caso, Israel é o país agressor e sua guerra é para aumentar o seu controle e poder na região, além de agir conforme os interesses imperialistas. Não temos nenhuma dúvida de, primeiro, repudiar a agressão contra o Irã e ao mesmo tempo declarar nosso apoio à resposta militar ao agressor. Ao responder aos ataques, Irã exerce o seu direito de defesa.
Por óbvio também declaramos a nossa oposição ao governo e ao regime iranianos, ou seja, o nosso apoio ao direito de revidar as agressões não se estende ao governo e ao Aiatolá.
Outra conversa fiada é que Israel está combatendo a opressão do regime iraniano, nada mais falso, pois mantém relações cordiais com países tão opressivos, como é o caso da Arábia Saudita. Nunca é demais lembrar que em Israel as pessoas que se declaram judias e são descendentes dos africanos ou dos iemenitas são muito oprimidos.
Por fim, mas não menos importante, também fazemos um chamado a classe trabalhadora israelense para não apoiar os planos de sua burguesia e seu governo até porque a conta dessa guerra será paga com a retirada de direitos e mais exploração. Uma paz na região só será possível com a derrota do sionismo e de seu Estado, embora hoje isso pareça improvável. Derrotar tais forças reacionárias é uma tarefa de toda classe trabalhadora para assim construir uma sociedade socialista e sem exploração, na qual todos – na diversidade religiosa e étnico-cultural -possam viver em harmonia.
– Condenamos os ataques de Israel que invadem a soberania territorial iraniana!
– O Irã tem o direito de defender a sua soberania!
– Fim do Estado de Israel. Por uma Palestina livre, democrática e socialista!