Uma profunda crise da esquerda anticapitalista
Nos últimos meses presenciamos o aprofundamento da crise da esquerda anticapitalista com mais rupturas – PSTU (tem um longo histórico de rupturas e agora em 2025), OCI, Revolução Socialista, divisão PCB/PCBR -, aumentando a fragmentação de uma esquerda que já está bastante fragilizada. De certa forma é também uma crise do marxismo (ou de uma parte dele) que foi hegemonizado nas últimas décadas por correntes burocráticas, reformistas e dogmáticos que o deformaram metodologicamente.
Também temos destacado o isolamento social e político, com militância localizada principalmente em setores do funcionalismo público e muitas vezes nas esferas com melhores remunerações. Isso não seria nenhum problema se, ao mesmo tempo, também estivesse presente nos setores mais explorados da classe trabalhadora, tivesse atuação nos movimentos sociais periféricos e, principalmente, em regiões operárias.
Do ponto de vista político e teórico as coisas não são melhores. Fenômenos como a força política e social da extrema-direita, a crise da subjetividade da classe trabalhadora, os balanços dos processos revolucionários e mais recentemente a “novidade China” também impactaram e abalaram a esquerda anticapitalista, levando a tensionamentos políticos e rupturas. As cisões se explicam por questões subjetivas e impaciência pois esses temas da luta de classes estão totalmente em aberto na realidade.
Outra expressão da crise da esquerda é a adesão de setores à institucionalidade, com capitulação à democracia burguesa. Nesse momento reacionário, com a burguesia na ofensiva política e ideológica, há muitas contradições e pressões sociais e políticas sobre os militantes e grupos. A ofensiva da burguesia tem feito com que muitas organizações se rendam ao “canto de sereia” da acumulação de forças no parlamento e conciliação com setores da burguesia e da burocracia estatal. O resultado disso é o deslocamento da atuação para a eleição com o objetivo de ganhar cargos no parlamento.
Enfrentar essa crise
A crise estrutural do capital nos indica que a situação só tende a piorar, com mais precarização do trabalho, mais desemprego estrutural e mais destruição ambiental. E sabemos que nenhum governo burguês (em suas várias versões) vai enfrentar esses problemas e fazer alguma concessão substancial à classe trabalhadora.
Sob o capitalismo não teremos futuro. Isso se torna mais urgente e necessário que, nós da esquerda anticapitalista, nos coloquemos como alternativa a esse sistema, apresentando aos grupos oprimidos e à classe trabalhadora uma saída de ruptura com o capitalismo.
E essa alternativa só poderá ser ouvida, entre outras coisas, se mostrar-se de forma coesa e firme com a defesa dos interesses da classe trabalhadora. Se for radical no sentido de atacar a raiz dos problemas, ou seja, o capitalismo. Se se aproximar dos setores mais explorados da classe. Se, mesmo lutando com o povo pelas reivindicações imediatas, apontar para a ruptura com o sistema. Só assim ajudará no desenvolvimento de uma consciência de classe em lugar das atuações institucionais.
São tarefas que, na atualidade, nenhuma organização sozinha tem condições de realizar. Entendemos a unidade da esquerda anticapitalista como um dos elementos centrais da realidade. Também sabemos que essa unidade tem vários níveis (unidade de ação, frente e fusões) e é importante explorar cada uma delas, unificando no “que for possível”.
É nesse sentido que o coletivo Ofensiva Socialista e a organização Emancipação Socialista iniciaram um processo de debate e discussões visando a criação de uma única organização. O processo acumulado até esse momento mostrou acordos importantes sobre questões essenciais da luta de classes. O calendário de debates segue com outros temas. É um pequeno passo diante dessa crise, mas importante, principalmente porque vai na contramão desse processo de rupturas.
Esse anúncio também tem o objetivo de convidar ativistas, lutadores e outros agrupamentos para participarem desse processo e colaborarem na luta pela unidade dos revolucionária. A tarefa de construir uma organização revolucionária com força para atuar na luta de classes e ajudar a mobilizar a classe trabalhadora para enfrentar os ataques aos nossos direitos, os governos e o capitalismo está posta para todos nós.



