Neste 8 de outubro foi anunciado o “cessar-fogo” entre a resistência palestina e Israel. À alegria e o alívio dos palestinos se misturou a descrença, pois Israel já descumpriu vários acordos. No mesmo dia Israel bombardeou Gaza, matando 10 e ferindo 49 palestinos. É a razão dos acordos com Israel serem frágeis.
A retirada de Gaza será gradual e os militares israelenses controlarão 53% do território, depois ficarão numa chamada faixa de segurança, ou seja, Gaza continuará sitiada. Os prisioneiros de guerra em poder do Hamas serão libertados em seguida. Alguns presos palestinos também serão soltos.
O plano sionista era a ocupação total e, junto com Trump, transformar Gaza em um resort, ou seja, um prêmio aos especuladores imobiliários. Não conseguiram. Partindo desse ponto de vista, é um passo importante e dá fôlego para a população de Gaza e para a resistência se reorganizarem. Por isso as comemorações e a alegria.
Trump tenta retomar o papel hegemônico
Os Estados Unidos ainda são poderosos, mas está num processo de enfraquecimento e não tem a força sobre os países como antes. É o declínio político. Agora há outros atores e outras relações políticas e econômicas que debilitam o papel estadunidense. É essa hegemonia que Trump tenta recuperar e por isso a pressão para fecharem o acordo.
Netanyahou e Trump também são parte da extrema-direita mundial, uma força política com um projeto reacionário procurando influenciar outros países trabalhando para ganhar força política no mundo.
Trump sabe que hegemonia não é construída só em mesas de negociações, mas também pela força militar, como é a presença da marinha em águas do Caribe. Nesse sentido a consolidação de Israel –uma extensão estadunidense na região- como um “imperialismo regional” é importante para Trump impor a hegemonia. Os bombardeios contra o Líbano, Iêmen, Irã, Síria e Qatar é parte do jogo, de dizer “quem manda na região”. Por isso os Estados Unidos apoiaram as ações militares israelenses.
Não confiamos em Netanyahou, Trump e na burguesia árabe
Várias vezes Netanyahou prometeu abrir o caminho para ajuda humanitária chegar em Gaza e até negociaram um cessar-fogo, mas Israel continuou bombardeando Gaza e a comida e os remédios não chegaram. Enquanto isso, as cenas de crianças esqueléticas pela fome, hospitais e escolas bombardeados e a cidade completamente destruída.
A maioria dos governos imperialistas apoiaram o genocídio promovido por Israel e os governos árabes, se limitaram às “declarações diplomáticas” e nada fizeram, ao contrário, foram cúmplices do genocídio.
Trump não é pacificador. Não há como ser. O complexo militar estadunidense precisa de guerra e para manter seus lucros exorbitantes, ou seja, os Estados Unidos vão continuar com as guerras para as empresas armamentistas lucrarem, enfim, vão continuar com a “máquina de guerra ligada”.
O fato de Israel ter recuado não significa que os fundamentalistas desistiram do seu projeto de “Grande Israel”, de controlar toda a Palestina ocupada e partes de outros países da região.
Outro motivo para desconfiar é a situação política interna. Netanyahou lidera um governo da extrema-direita, que se opõe ao acordo e defende a destruição total do Hamas. Essas divisões dentro do governo israelense podem pender a favor do setor mais reacionário e retomarem os ataques.
Por isso, não merecem confiança. Só a pressão popular pelo mundo pode colocar um fim definitivo às ações dos militares israelenses. O povo palestino, com os 77 anos de luta pela libertação, tem consciência do papel de Israel e da necessidade de continuar a luta.
Olhos para Gaza e para a Cisjordânia
Esse acordo servirá para o povo se reorganizar, mas é importante entender que a Palestina continua ocupada e não há nenhuma cláusula sobre essa questão.
Com a atenção para o genocídio em Gaza, Israel aproveitou para expandir os assentamentos ielgais, expulsar milhares de palestinos de suas casas, assassinar e prender outros tantos.
E esse acordo não aborda a saída das tropas israelense da Cisjordânia, a devolução das casas, o desmantelamento dos assentamentos e o controle da cidade pelos próprios palestinos. Então é importante também olharmos para Cisjordânia porque também está ocorrendo um genocídio.
Reconstrução e indenização pelos danos dos ataques
Parte da luta em defesa do povo palestino é exigir de Israel e dos países que financiaram os ataques, a indenização e garantia de capital – sob controle palestino- para a reconstrução de Gaza e indenizar todos os palestinos pelos danos.
Também é o povo palestino que deve quem governará Gaza e a Cisjordânia. Nenhum comitê ou qualquer outra forma de ingerência política deve ser aceita.
Não podemos esquecer que a Palestina continua ocupada por forças sionistas e a luta é mais atual do que nunca. Uma paz duradora passa necessariamente pelo fim do Estado israelense, a origem de todo tipo de violência contra os povos da região.