Nos atos de 1º de maio deste ano tivemos uma importante unidade de ação dos setores da esquerda socialista em várias atividades espalhadas pelas regiões brasileiras. Uma ótima iniciativa, no geral. Também têm ocorrido debates interessantes que aproximam correntes e militantes independentes do campo da esquerda revolucionária. Todas as iniciativas são excelentes, devem ser multiplicadas e podem contar com o apoio, a militância e os esforços da Emancipação Socialista.
Temos atuado e estimulado o Movimento pela Frente Socialista Revolucionária (MFSR), iniciativa que aproxima e articula grupos e militantes revolucionários (as) na perspectiva da unidade e colaboração entre seus membros, buscando quebrar a fragmentação e a ‘diáspora’ entre os agrupamentos revolucionários. Uma tarefa árdua, considerando que as rupturas e a autofagia dominam a relação entre os grupos e nem sempre existem regimes saudáveis internamente nas organizações. Conviver com as diferenças parece ser um fardo pesadíssimo e rapidamente se conclui que é melhor dividir e fazer um ‘novo grupo’ do que apostar no debate saudável e qualificado das diferenças e sínteses superiores.
De fato, o desafio de aproximar os revolucionários imersos nesta ‘cultura da fragmentação’ é imenso e o jornal Consciência de Classe passará a dedicar um espaço permanente para trazer reflexões e debater este tema. Nesta edição iniciamos esta série trazendo um pouco da experiência do POUM (Partido Operário da Unificação Marxista), da Espanha: em setembro, completam-se 90 anos da fundação deste partido.
Eram os tumultuosos anos 1930 e o contexto internacional apontava uma intensa polarização entre o fascismo e setores da direita e as forças de esquerda e dos movimentos sociais, em geral. A Espanha seria mais um dos cenários deste embate: ali, uma batalha brutal – antecedendo o que seria a 2ª Guerra – se estabeleceu.
Nas eleições polarizadas de fevereiro de 1936, a Frente Popular (FP) conseguiu 4,7 milhões de votos e a Frente Nacional obteve cerca de 4,4 milhões. No marco de profunda onda de mobilizações e greves, a FP se constitui como uma coalizão composta por socialistas moderados (PSOE) e burgueses republicanos com apoio tácito dos anarquistas, um setor com peso importante no movimento de massas espanhol naquele momento. O Partido Comunista Espanhol vinculado a Moscou e a Internacional Comunista estalinizada também compôs a coalização.
A direita espanhola, por sua vez, gozava do apoio da grande burguesias, dos latifundiários, dos industriais, de boa parte da Igreja Católica e do Exército. Portanto era uma força social significativa com peso de massas.
A FP tomou posse e em poucos meses adotou algumas medidas progressivas como a expropriação de mais de meio milhão de hectares de terras para instalar famílias de camponeses: medidas combinadas com o compromisso da manutenção da propriedade privada e do sistema capitalista. Politicamente, as forças de esquerda se fragmentaram, uma consequência de um contexto de lutas generalizada especialmente nas grandes cidades em um país majoritariamente agrário. Em julho daquele ano, poucos meses após a posse da FP, diante da polarização, a extrema direita opta por um golpe militar liderado pelo General Franco: era o início da Guerra Civil Espanhola que duraria até 1939.
O POUM havia surgido 10 meses antes a partir da unidade orgânica entre dois setores comunistas dissidentes: a ‘Esquerda Comunista’, liderada por Andres Nin, um quadro que chegou a trabalhar com Trotsky na Rússia revolucionária, e o Bloco Operário e Camponês de Joaquim Maurin, vinculado a posições originadas de Bukharin, pejorativamente chamado pelos estalinistas de ‘comunistas de direita’. Ambos criticavam a politica geral do estalinismo num período no qual importantes setores do movimento socialista/comunista, sobretudo na Europa, organizavam correntes dissidentes e críticas à burocracia da URSS e da Internacional Comunista. Nas páginas de seu jornal “A Batalha”, o POUM foi o único a criticar os Processos de Moscou que eliminaram milhares de militantes e opositores a Stálin. Apesar das distintas origens de seus fundadores, o POUM surgiu em base a um acordo programático significativo e também atraiu ativistas revolucionários de variadas origens dentro do campo da esquerda comunista.
Quantitativamente, em julho de 1936, o POUM contava com cerca de 8.000 militantes, um salto já em relação ao numero fundacional. No final desse mesmo ano chegaria a 40.000 numa Espanha que contava com cerca de 24 milhões de habitantes. Mesmo sendo uma força minoritária, tinha um peso político expressivo. Isso demonstra a correção em se constituir uma unidade orgânica entre os revolucionários especialmente alicerçada em um programa e tarefas comuns para atuar na realidade.
Infelizmente, o POUM errou muito politicamente, especialmente na sua posição perante a FP: apesar de criticá-la, colocou a sua assinatura no acordo fundacional da FP e chegou a ter Andres Nin como ministro. No próximo texto desta série seguimos analisando os caminhos políticos do POUM e as consequências de suas escolhas, o que não macula em nada a experiência da unidade dos revolucionários que deve ser considerada um ótimo exemplo.