O governo federal anunciou com pompa uma “Política Nacional de Data Centers”, vendida como salto tecnológico e soberania digital. Sob o verniz do progresso, porém, esconde-se uma engrenagem perversa que beneficia o grande capital enquanto aprofunda a exploração do trabalho e a devastação da natureza.
A pergunta que não cala é: avanço para quem? A tecnologia, e nenhum outro elemento social, não é neutra sob o capitalismo, ela é capturada pela lógica do lucro, transformando-se em ferramenta de dominação. As máquinas a serviço da burguesia, longe de libertar, tornam os trabalhadores apêndices de algoritmos sob vigilância constante, intensificando a exploração.
Enquanto a produtividade dispara com a automação, os salários rebaixam, o desemprego cresce e a jornada de trabalho aumenta. O mito do “progresso” serve, então, para mascarar o aumento da exploração da “classe que precisa trabalhar para viver”.
Data Centers no governo Lula e a máscara do progresso
A farsa do progresso se revela claramente no caso dos data centers (computadores e sistemas digitais para armazenamento, processamento e tráfico de dados nas redes). Apresentados como necessários para o avanço da “indústria inteligente”, como “verdes” e “sustentáveis”, esses centros de dados são monumentos ao capital digital e vorazes consumidores de recursos naturais.
Na construção dessas instalações, com a farsa de “gerar mais emprego”, desmatam as áreas habitadas pelos trabalhadores nas pequenas cidades e/ou expulsam povos originários locais. Para manter o funcionamento, demandam energia elétrica equivalente a cidades inteiras e bilhões de litros de água, agravando a ruptura na relação entre sociedade e natureza.
O governo Lula, em sintonia com os interesses das big techs (Microsoft, Amazon, Google, etc.), promove esta expansão com muita hipocrisia. Foram realizadas 80 reuniões para formatar a política de data centers, e nenhuma sequer incluiu o Ministério do Meio Ambiente! As licenças ambientais são tratadas como “entraves” a serem eliminados e não como possíveis garantias de menor impacto na destruição.
Enquanto comunidades indígenas e quilombolas já sofrem com a falta de ágia e a degradação de seus territórios pelo agronegócio, o governo oferece isenção de impostos (PIS, Cofins, IPI) para a importação de máquinas para as grandes empresas de tecnologia. Escolas e hospitais públicos definham sem recursos, mas o capital estrangeiro recebe regalias.
O discurso de “geração de empregos” com os data centers é pura ilusão: 90% dos postos de trabalho para as construções são temporários. Concluídas as obras, restam demissões e os rastros dos impactos socioambientais.
Soberania digital e COP 30
Diante dessa realidade, a prometida “soberania digital” virou uma piada amarga. Sabemos que quase 60% dos dados brasileiros já estão armazenados no exterior e que já são mais de 160 data centers no Brasil.
A política da burguesia segue seu roteiro perverso da acumulação capitalista: “desburocratizar” para os grandes empresários de tecnologia significa, na prática, anular direitos e licenças. Cria-se um dito “licenciamento especial” para projetos ditos “estratégicos” (lucrativos para o capital), ignorando estudos de impacto detalhados.
Assim, os governos burgueses e seus deputados aprovaram o PL da Devastação, que permite a implantação de data centers via “autodeclaração” do investidor, sem fiscalização séria.
A contradição é gritante: o Brasil sediará a COP30 pavimentando sua imagem de líder ambiental, enquanto sanciona leis que aceleram o colapso hídrico/energético que afeta toda a população para servir ao lucro privado de alguns empresários.
A conta da destruição ambiental e do esgotamento dos recursos, porém, fica aqui, internalizada nas costas da classe trabalhadora e dos povos originários.
O caminho deve ser outro
Há um caminho diferente. É possível e urgente socializar a tecnologia, arrancando-a das garras do capital. Data centers expropriados e sob controle popular poderiam servir às reais necessidades sociais como saúde pública de qualidade; Educação universal; planejamento ecológico; reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário; usar o potencial tecnológico para não produzir mais mercadorias inúteis e destrutivas; restaurar a relação metabólica com a natureza. A luta da classe trabalhadora, dos movimentos sociais, da juventude pela tecnologia com função social e a resistência dos povos originários são faces da mesma trincheira contra o sistema que nos explora e envenena.