Nas últimas horas, Israel colocou em andamento o que seu ministro da defesa chamou de “abrindo os portões do inferno”, com o avanço das tropas militares e os armamentos pesados para controlar a cidade de Gaza. O ataque em território tunisiano contra a Flotilha Sumud que está seguindo para romper o cerco sobre Gaza e o bombardeio no Catar contra membros do Hamas negociadores de um cessar-fogo com os israelenses materializaram a intenção desse avanço sobre Gaza.
Nos últimos meses Israel também bombardeou Síria, Irã, Líbano e Iêmen como forma de enfraquecer e inviabilizar o apoio aos palestinos.
Mais crimes e, consequentemente, mais mortes. Poucos regimes na história da humanidade – talvez o caso mais parecido seja o nazi/fascismo na segunda guerra mundial. Israel é um Estado que se alimenta de sangue.
Em relação às terras palestinas, o governo israelense não esconde de ninguém que vai colocar em prática o plano de anexar a Cisjordânia (hoje ocupada militarmente). Como declarou o ministro das Finanças da extrema-direita, Bezalel Smotrich, chegou a hora “de uma vez por todas remover o Estado palestino da agenda”. Como parte desse plano, vários bandos sionistas e judeus radicais estão matando palestinos e, os que sobrevivem, são expulsos de suas casas.
Apoio a Israel de um lado e, de outro, omissão
Estados Unidos são o principal Estado apoiador político e financeiro desse plano. Trump nem mede as palavras sobre o plano de construir um resort em Gaza.
França, Alemanha e Inglaterra também apoiam. Porém, por conta das mobilizações e pressões populares, começaram a falar em “reconhecer o Estado palestino”, mas continuam enviando armas e dinheiro para Israel. Ou seja, pura hipocrisia.
Também deve ser destacado o silêncio dos países árabes. A oposição se resume a notas da diplomacia lamentando os ataques e as mortes. Em muitos deles, como é o caso do Egito, os governos têm reprimido qualquer manifestação em favor dos palestinos e assim impedido o que poderia mudar o curso da história.
Essa omissão dos países árabes é consequência do enfraquecimento do panarabismo, uma corrente nacionalista burguesa que defendia a unidade árabe e cumpriu um papel importante no apoio à resistência palestina. Na atualidade, e a maioria deles é alinhada com os Estados Unidos.
Ao falar de omissão em relação ao genocídio palestino não se pode deixar de fora a Igreja Católica e o Papa Leão 14, este tem se limitado a pedir paz na região, uma das várias formas de conivência com o regime sionista.
Quem minimamente apoiava a resistência palestina, como o Iêmen e o Irã, junto com o Hezbollah no Líbano, foi bombardeado e perdeu força para se opor a Israel e aos Estados Unidos. Dessa forma, os grupos da resistência palestina ficaram mais isolados.
O fim da ilusão da solução de dois Estados
Em 1994 os Estados Unidos impuseram um acordo entre os palestinos e Israel, no qual, constava a possibilidade de criação de um Estado palestino. Em troca os palestinos deveriam reconhecer o Estado de Israel. Como parte desse acordo foi criada a Autoridade Palestina, só com funções administrativas em algumas cidades.
Esse acordo foi um divisor de águas no movimento palestino contra o qual a maioria da população se colocou. É nesse contexto que o Hamas ganha a eleição em Gaza, opondo-se às concessões que Arafat fez aos israelenses e aos Estados Unidos.
Com o genocídio provocado por Israel, nem mesmo essa ilusão ficou de pé. O plano de ocupação de Gaza e a anexação da Cisjordânia também inclui o fim da Autoridade Palestina, ou seja, Israel quer varrer todos os resquícios do “processo de paz” da década de 1990.
Esses elementos também mostram a hipocrisia dos governos que agora falam em reconhecer o Estado palestino. Onde? Como ter Estado palestino se Israel ocupa todo o território palestino?
O mesmo Bezalel Smotrich segue com as ameaças: “Chegou a hora de Israel aplicar sua soberania à Judeia e à Samaria (é como o sionismo se refere à Cisjordânia). É hora de remover de uma vez por todas da agenda a ideia de dividir nossa pequena terra”. E ele continua anunciando o terror: “este é o slogan – território máximo, população mínima”.
Assim, como muitos denunciavam, é impossível a existência de dois Estados na região. Israel não quer e nunca quis. O imperialismo estadunidense não quer e nunca quis. Um Estado palestino só será possível com o fim do Estado de Israel.
Israel não quer paz. Quer eliminar o povo palestino.
Esse ataque é mais uma amostra de que Israel não quer negociar. A simbologia dessa ação é: nenhuma negociação e vamos continuar com o genocídio.
Junto com a ofensiva deram ordens para a população palestina abandonar a região e também seguem com mais ataques como forma de forçar o deslocamento para as praias, superlotadas de tendas.
Como parte desse plano, Israel acabou com a infraestrutura de saúde em Gaza. Bombardeou a maioria dos hospitais (único hospital infantil funcionando é o Al-Rantisi em Nasser, e está operando com 300% de sua capacidade), não deixam entrar remédios, macas, kits de primeiros-socorros.
Outra arma de guerra israelense é a fome. Israel proíbe a entrada de alimentos, privando as crianças de terem o mínimo de alimentação. Nem mesmo água deixam entrar. Milhares de crianças estão subnutridas e outras tantas já morreram de fome.
Israel não quer negociar, quer matar. E também não se importa com os prisioneiros israelenses
O Hamas tem feito concessões para um cessar-fogo, inclusive se propondo a aceitar “uma administração nacional independente de tecnocratas” para governar Gaza. Também se mostrou disposto a “entrar em um acordo abrangente no qual todos os prisioneiros inimigos detidos pela resistência serão libertados em troca de um número acordado de prisioneiros palestinos”.
O reacionário Netanyahu não só rejeitou a proposta, como declarou que a ofensiva militar vai continuar até obterem o controle completo de Gaza. O governo sionista está empenhado em completar o genocídio palestino. O chefe das forças de ocupação, Eyal Zamir, também não esconde o plano: “Não haverá escolha a não ser impor um regime militar em toda a Faixa de Gaza a partir de novembro”.
Com tudo isso, também podemos concluir que o reacionário Netanyahu não está preocupado com os prisioneiros de guerra israelenses.
A mobilização mundial é a única saída
O povo palestino nunca precisou tanto da nossa mobilização. Além da presença nas ações de rua, os sindicatos precisam mobilizar trabalhadores de fábricas e empresas israelenses que exportam produtos para Israel. Também é preciso pressão sobre os governos para romperem todas as relações com Israel.
Há várias iniciativas importantes como ações de trabalhadores portuários, ações de torcidas de futebol em vários estádios, atividades em escolas e universidades discutindo o tema, enfim, há várias formas para se engajar nessa luta.
Até mesmo em Israel há manifestações contra o governo de Netanyahu e exigindo o fim da ofensiva em Gaza.
Como disse o jornalista palestino Alaa, “Se deixarmos Gaza sozinha para este destino, tenho certeza de que todo o mundo vai experimentar tal injustiça no futuro.” E cabe a nós lutar para livrarmos a humanidade das atrocidades do regime sionista.