O último dia 21 de setembro foi marcado por importantes atos contra a PEC da Blindagem e contra a Anistia aos golpistas de 08 de janeiro de 2023. Ocorreram concentrações de milhares de pessoas, nas 27 capitais do país. Também aconteceram atos em dezenas de outras cidades, como no Triângulo Mineiro, em Juiz de Fora e no exterior.
A Câmara dos Deputados, na semana passada, aprovou por ampla maioria a proteção aos parlamentares contra a abertura de processos penais no Supremo Tribunal Federal (STF). Na esteira dessa vitória da extrema direita bolsonarista e do chamado “Centrão”, com apoio de 12 deputados do PT, aprovaram a urgência na votação do projeto da Anistia aos golpistas. Como consequência, Paulinho da Força (velho pelego policial do movimento sindical) foi colocado como relator do Projeto de Lei para reduzir as penas de Bolsonaro e demais golpistas.
Quase que instantaneamente, houve a resposta do movimento de massas, lembrando muito o 7 de setembro de 1992, quando Collor de Mello, no auge das investigações sobre corrupção no seu governo, convocou a população a vestir verde e amarelo no dia da Independência para lhe dar apoio. Milhares de pessoas tomaram as ruas vestindo preto, deflagrando a reta final do seu impeachment.
As consequências do dia 21 de setembro de 2025 já se fizeram sentir. Preocupado com a grande impopularidade da medida, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Otto Alencar (PSD-BA) garantiu que na próxima reunião do colegiado vai sepultar o assunto. Uma pesquisa apontou que a maioria dos senadores está contra a PEC da bandidagem. Além disso, muitos deputados fizeram autocrítica, nas redes sociais, por terem votado na mencionada PEC.
Muitos artistas (Maria Gadú, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Geraldo Azevedo, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Nando Reis, Chico César, Wagner Moura, Nanda Costa, Daniela Mercury, Fernanda Takai, Emicida, Wagner Moura) e personalidades (Padre Júlio Lancelotti, Marcelo Rubens Paiva) estiveram nos atos do dia 21 de setembro de 2025, o que sinaliza a falta de apoio às manobras dos parlamentares. Em São Paulo, o Padre Júlio Lancelotti chegou a proclamar, “Palestina, livre!”.
Encaramos os atos dos dia 21 de setembro como progressivos, mas com muitas limitações. Progressivos porque colocaram o Congresso no seu real lugar: o de inimigo do povo. Progressivos porque podem enterrar as pretensões de preservação da extrema direita e do Centrão, além da anistia aos golpistas.
Mas os atos foram limitados, porque não denunciaram que Lula pretende fazer coro a Paulinho da Força na redução das penas dos golpistas. Limitados porque não denunciaram a Reforma Administrativa em curso no Congresso, capitaneada pelo deputado do Centrão Pedro Paulo (famoso pelo episódio em que espancou a sua mulher) com o apoio do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad e da Ministra de Gestão, Esther Dweck. Esta reforma acaba com o serviço público e, além de atingir os servidores, será nefasta para a população pobre e desassistida. Estes atos são limitados porque não apontaram outras pautas importantes como o fim da redução da jornada de trabalho 6 X 1. Limitados porque não exigiram que o governo tome medidas concretas contra o tarifaço de Trump como a suspensão do pagamento da dívida pública, a expropriação sem indenização às empresas norte-americanas. Limitados, por fim, porque não denunciaram que segue o holocausto sionista na Faixa de Gaza e não ocorreu a denúncia por parte dos oradores de que o Governo Lula continua comercializando com Israel.
Foi dessa forma porque a classe trabalhadora como classe não foi para os atos do dia 21 de setembro e sim teve participação como indivíduos. O caminho para ampliação e continuidade desses atos é, ao mesmo tempo, serem combativos contra a extrema-direita bolsonarista e o Centrão; é buscar juntar pautas bastante importantes para o conjunto da classe trabalhadora, se descolando do governismo. Enfim, a classe trabalhadora francesa tem mostrado o caminho para que possamos derrotar a extrema-direita e os liberais de plantão no congresso e no governo.