De acordo com o que assumiu durante a campanha eleitoral que o elegeu presidente, quando chegou a bater continência à bandeira norte-americana, Jair Bolsonaro procurou na sua primeira visita aos Estados Unidos, mostrar-se coerentemente servil aos interesses do imperialismo ianque no campo diplomático, na esfera política e também nos acordos comerciais firmados na visita e da mesma forma nos acordos militares.
Como amostra inicial do que seria a visita, já no dia 17 de abril, Bolsonaro, mantendo a retórica messiância que marcou a sua campanha, jantou com ministros, gurus da ultradireita, como o “filósofo” Olavo de Carvalho e Steve Banno, jornalistas e disse que o Brasil caminhava para o comunismo e que sua vitória, portanto, teria sido um milagre. Já no dia seguinte, ao discursar para uma plateia de investidores americanos na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, além de dizer que “contava com os Estados Unidos para libertar a Venezuela”, o presidente brasileiro transmitiu o seu posicionamento favorável às políticas liberais na economia brasileira no sentido de facilitar investimentos estrangeiros.
Não custa lembrar que a cereja do bolo para que esta mensagem otimista aos capitalistas estadunidenses vingue é necessária a aprovação, entre outras medidas, da Reforma da Previdência, um dos mais brutais ataques sofridos pela classe trabalhadora brasileira. Soma-se a essa medida, a continuidade do pagamento da dívida pública externa e interna ao capital rentista, com o consequente sucateamento dos serviços públicos, a privatização de mais estatais e a entrega de outros setores, como petróleo, mineração, aeroportos etc.
Entrega da Base de Alcântara e outras capitulações aos ianques
No mesmo dia 18, Bolsonaro e o seu fiel escudeiro Sérgio Moro, visitaram a CIA, a agência de inteligência, mostrando, que não eram infundadas a suspeitas da relação do ex-juiz e atual Ministro da Justiça, com o Departamento de Estado norte-americano. Coincidentemente, nesse mesmo dia, Estados Unidos e Brasil assinaram um acordo para viabilizar o uso comercial da base militar de Alcântara no Maranhão, acordo este que tinha fracassado, em 2002, no governo FHC.
Em um gravíssimo ataque à soberania nacional, americanos vão ter áreas de acesso restrito no território brasileiro, na base de lançamento de satélites mais estratégica do mundo por conta da sua localização, para “evitar espionagens”. Sequer existe clareza no acordo se ao menos haverá troca de tecnologia entre Estados Unidos e Brasil. A lamentável entrega da base de Alcântara ao imperialismo norte-americano é a declaração de que o Brasil passa a ser o aliado prioritário para os Estados Unidos fora da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)
Também no dia 18 e não por menos coincidência, foi firmada uma parceria da Polícia Federal com o FBI, que permite que as duas intituições possam trocar dados biométricos sobre pessoas investigadas nos dois países e sobre possíveis ameaças nas regiões de fronteiras. E ainda no dia 18, Bolsonaro retirou a exigência de visto para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália, sob a alegação de incrementar o turismo. Curiosamente, a medida que começará a valer em junho de 2019 não teve nenhuma contrapartida, ou seja, brasileiros continuarão a precisar de visto para entrar nos países beneficiados pelo governo brasileiro.
Para coroar tanta submissão aos Estados Unidos no dia 18, Bolsonaro deu entrevista a Fox News e no embalo do discurso anti-imigrantes de Trump que atinge principalmente os latinos, em particular os mexicanos e portorriquenhos, Bolsonaro declarou que “a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções, nem quer o melhor ou fazer bem ao povo americano”. Detalhe: mais de 1 milhão de brasileiros moram nos Estados Unidos, inclusive alguns em situação irregular. No dia seguinte, percebendo que sua bajulação e baba-ovismo o levara a cometer uma tremenda mancada, se desculpou pelo que falou e disse ter se equivocado.
Na reunião do Ministro da Fazenda, Paulo Guedes com o negociador estadunidense, Roberto Lighthizer, a tentativa do governo brasileiro de abertura do mercado norte-americano à exportação da carne brasileira fracassou. Cobrado pelo representante do imperialismo sobre o volume de exportações do agronegócio brasileiro para a China, hoje a principal parceira comercial do Brasil, Guedes, em uma postura de lacaio e entreguista, acordou com os Estados Unidos, zero de tarifa para a entrada do trigo estadunidense em nosso país, com tarifa zero.
No último dia da visita, Bolsonaro teve um encontro de escassos vinte minutos com o chefe do Império norte-americano, Donald Trump. Ainda que se alinhando politicamente com os Estados Unidos no apoio a Guaidó contra Maduro na Venezuela e declarando unidade com os ianques “no que for possível fazermos juntos para solucionar o problema da ditadura venezuelana, o Brasil estará a postos”, prevaleceu, entretanto, a posição dos militares brasileiros de não intervenção no país vizinho, que sabem que o buraco é muito mais embaixo, mesmo frente à pressão de Trump que tenta com o governo colombiano e com o governo brasileiro “terceirizar” o conflito com a Venezuela.
Brasil aceita ser rebaixado para ficar do lado dos Estados Unidos na guerra comercial com a China
E mesmo se posicionando no sentido de que vai manter as boas relações comerciais com a China, Bolsonaro aceitou a exigência do presidente norte-americano de perder o tratamento diferenciado de país em desenvolvimento na Organização Mundial de Comércio (OMC) para contar com o apoio de Trump para entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de perfil liberal, cujos país participante dá um sinal aos investidores estrangeiros de que é um país confiável. Registre-se que vários países entraram na OCDE e não abriram mão do status diferenciado na OMC. Para se dar um exemplo, o status de país em desenvolvimento na OMC permitia o Brasil vender um celular aos EUA, pagando menos imposto do que um país em desenvolvimento.
Após essa escolha, o Brasil que sempre teve uma postura de negociador neutro com os EUA, China e Rússia, deverá ser bastante prejudicado nas negociações relacionadas com o comércio internacional. Ou seja, o governo aceitou o rebaixamento do Brasil para favorecer a estratégia de Trump, dentro da sua estratégia de “guerra comercial com a China”, de minar o país asiático. O alinhamento automático, ideológico e servil de Bolsonaro aos Estados Unidos: a “recolonização” do Brasil.