Precarização do trabalho e da vida
Você tem visto ultimamente mais pessoas vendendo coisas nas ruas, estações e transportes? Mais pessoas desempregadas ou sobrevivendo em situação de rua? Muitas pessoas trabalhando com aplicativos, leva e traz de passageiros, entregador para restaurante de fast-foods? É isso. A quantidade de pessoas vivendo nessas condições aumentou.
Esse momento que vivemos é de crise e precisamos falar sobre isso. É justamente durante os períodos de crise que piora as condições de vida e aumenta o número de pessoas desempregadas e em trabalho precário. Sem opção, as pessoas vão atrás de alguma forma para gerar renda e sobreviver com trabalho autônomo, terceirizado, bico e vários outros sem nenhum direito trabalhista.
Sobreviver a qualquer custo
O trabalho precário não proporciona nenhuma proteção e não possui direitos básicos que um trabalhador ou trabalhadora com carteira assinada sempre possuiu.
Um exemplo é do entregador (com bike ou moto) que não possui seguro para possível acidente ou mesmo algum tipo de atendimento diferenciado em caso de mal-estar durante o horário de trabalho. Recentemente vimos o triste caso de Thiago de Jesus Dias, trabalhador da Rappi Delivery, que passou mal e não obteve o socorro necessário da empresa e nem dos serviços públicos acionados.
A precarização do trabalho no Brasil está relacionada também com o papel internacional do país na economia dependente capitalista, há necessidade de o capital intensificar a exploração sobre a classe trabalhadora brasileira para a burguesia, inclusive mundial, manter ou aumentar o lucro.
E sempre que há crise aumenta a exploração: demite uma parcela de trabalhadores e da outra parcela passa a retirar direito trabalhista que foi difícil conquistar, deixa de assinar carteira de trabalho ou cria a verde-amarela, aumenta a jornada de trabalho ou estabelece a intermitência (sem jornada determinada), retira folgas, empresa “contrata” como “microempreendedor” para não pagar direitos, etc. Com isso, se faz uma Reforma Trabalhista e se destrói legislação como a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Com formação ou sem formação
Há um debate que diz “o trabalhador precarizado não possui qualificação”, mas não é isso e muitas pessoas qualificadas estão desempregadas, em trabalhos precários, em eternos estágios, fora da área de sua formação ou desalentados. Segundo a pesquisa do IBGE, Pnad Contínua, cerca de 1,4 milhão de brasileiros com ensino superior completo estavam sem trabalho no primeiro trimestre e a renda média caiu 0,9%.
Ruy Braga – estuda o precariado (trabalhadores que vivem sempre de trabalho precário ou ficam pouco tempo no mercado de trabalho formal) – afirma que esse setor de trabalhadores é composto também por jovens. E é visível.
Na busca pelo primeiro emprego, na demora em encontrá-lo, nas infindáveis filas na hora da procura e diante de necessidades econômicas parcela dos jovens se submete à precarização. Hoje podemos dizer que boa parte está na área de telemarketing, por exemplo, submetida à forte pressão por metas, ao adoecimento e à falta de direitos trabalhistas.
Desde a juventude
Parcela dos jovens, desde o primeiro emprego, já sofre com a precarização trabalhando em lojas de shoppings, hipermercados, telemarketing, etc. Não é estimulada a continuar os estudos, mas é incentivada a trabalhar mais, disputar com seu colega de trabalho a vaga de emprego e a função e abrir mão dos direitos.
Também é comum para quem mora na região metropolitana de São Paulo ver pessoas com coletes da ONG Greenpeace pedindo doações mensais. O nome dado para essa categoria é Captador de Recursos, trabalha seis horas ao dia de pé, na rua e com dificuldade de acesso até mesmo ao banheiro, ou seja, sem condição decente de trabalho.
Poderíamos citar aqui vários tipos de subempregos que por conta da condição de vida, da necessidade de trabalhar e da alta taxa de desemprego os jovens (18 a 24 anos) são obrigados a se submeter. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a taxa de desemprego de forma geral está em 11% e entre os jovens sobe para 26%, considerando que muitos já têm até desistido de procurar emprego. E a Reforma do Ensino Médio está preparada para ajustar as escolas e o ensino a essa situação.
Além disso, com a Reforma da Previdência, o direito à aposentadoria fica muito mais distante e, o tempo todo, será medida a necessidade do mercado de trabalho entre empregar o jovem ou o mais velho desempregado.
A uberização
Uma maneira de transformar algo velho em algo novo é uma das formas dos capitalistas continuarem lucrando e com a Uber foi assim. O funcionário praticamente não é funcionário, pois trabalha quando quer e quanto quer. Aparenta ser um tipo de trabalho com total liberdade.
Mas, sabemos que não é assim. Nesse último período até uma greve em vários países do mundo (movimento iniciado nos Estados Unidos) foi realizada por salários melhores e, no caso do Brasil, além disso, foi também por maior segurança já que há registros de assassinatos e roubos durante o horário de trabalho.
Foi um tipo inovador de greve, pois ocorreu em várias partes do mundo ao mesmo tempo, com pauta semelhante, de forma semelhante e envolvendo o principal protagonista dessa história, que é o motorista.
Poderíamos continuar aqui a dar uma infinidade de exemplos sobre a piora das condições de vida e de trabalho do proletariado brasileiro, que em sua maioria não se reconhece enquanto uma classe social, a classe trabalhadora explorada. Dessa forma, não atua no dia a dia para transformar essa situação. E permanece explorada por uma outra classe social, que se reconhece enquanto burguesia (ricos, milionários, etc.), se organiza e se unifica para manter o controle da sociedade.
Portanto, precisamos (ambulantes, entregadores, desempregados, bicos, captadores, motoristas, etc.) de indignação e criatividade para reverter essa situação com novas formas de luta ou velhas formas transformadas em novas e com a unidade de toda essa classe trabalhadora para enfrentar os capitalistas exploradores e o capital.