A juventude brasileira é um dos setores mais atingidos pela crise econômica e social. O desemprego, a precariedade do trabalho, uma escola que oprime e forma mal e a incerteza sobre o futuro.
A História brasileira também mostra que quando a juventude sai às ruas o sistema treme. São vários exemplos, como a luta contra a ditadura militar e a campanha pelas “Diretas já” e pelo “Fora Collor” com a geração caras-pintadas.
Nesse momento de aprofundamento da crise, mais do que nunca, se faz necessário a retomada das lutas, pelas reivindicações atuais e também para construir um futuro.
Na tentativa de compreender esse processo, entrevistamos a jovem Isabella Marques, do Rio de Janeiro.
Isabella, como você vê a situação da juventude atualmente?
Jovens militantes da atualidade têm causado muita preocupação para militantes mais antigos/as e que atuaram na linha de frente da luta por direitos. Havia, ao longo do século XX, muitas manifestações políticas regidas e organizadas por universitários/as, em sua maioria jovens, nas ruas do país.
Mas, para compreendermos a juventude da atualidade precisamos analisar seu desenvolvimento histórico baseado na materialidade, precisamente no que consideram política e, posteriormente, o fazer política.
O que conseguimos observar acerca dos/as atuais jovens é que há três subdivisões quanto a formação ideológica: uma parcela que é militante e de esquerda radical, outra que vive à mercê de propagandas políticas da burguesia e uma outra parcela que é de extrema-direita.
E quais as perspectivas da juventude nessa sociedade capitalista?
Com isso, após a ascensão política da extrema-direita, a juventude de esquerda radical voltou sua atenção para maior participação política e também foi massacrada por falácias ideológicas. A necessidade de se repaginar e de se comunicar com mais pessoas não permitiram uma boa execução desse plano. Ainda hoje a juventude de esquerda radical tem dificuldade de usar uma linguagem informal que dialogue com a população e que reduza o abismo existente.
Na medida em que a extrema-direita consegue se comunicar e disseminar seus ideais referentes à violência, o racismo, o machismo, etc. observa-se a falta de esperança em possíveis mudanças para a maioria da juventude, afetando diretamente a de esquerda radical e até a formação de futuros/as revolucionários/as.
Por conseguinte, a juventude de conjunto – que apenas recebe notícias e possui uma defasagem no senso crítico por, principalmente, ter uma condição de vida e uma Educação precarizadas – tem servido de ‘joguete’ nas mãos da burguesia, que busca desumanizar sua existência e dominar sua consciência para que não tome conhecimento da luta de classes.
Você concorda que, em parte da juventude, há uma descrença na militância e até na Revolução? É possível superar essa situação?
Dessa forma, é necessário pensar que esta precarização se apresenta de forma proposital como investimento da burguesia, já que é esta que rege a democracia liberal. Como resultado disso e conforme apresentado na Pesquisa Millennials, forma-se uma juventude frustrada com o seu envelhecer, a caminho da miséria e da servidão.
Compreende-se, portanto, que o ato político de parcela dessa juventude é conseguir sobreviver nesses meios precários onde a qualidade de vida e a mudança de perspectivas são impensáveis.
Esses/as jovens não conseguem se ver como atuantes na história mundial de seu tempo, pois são tiradas até mesmo as possibilidades de vida.
Para além da sobrevivência, a compreensão do que é fazer política se limita às ações institucionais que sustentam a descrença da população na ação política e tiram a ideia do ser homem/mulher ativos, de carne e osso para aplicar as realidades neoliberais e o discurso universalista de que ‘’nada irá mudar, pois este é o único caminho’’.
Esse pensamento busca limitar a juventude, afastá-la dos movimentos de esquerda radical e aproximá-la de ideias reformistas, que após ascender novamente ao poder investem em programas de inclusão de jovens nos meios culturais.
E como se organizar?
A ausência de conteúdos da esquerda-radical na internet fez com que a extrema-direita alcançasse um número significativo de jovens que estavam formando sua concepção política, e que acreditam que a ideologia capitalista é o caminho a ser seguido.
Entretanto, essa realidade vem impulsionando jovens de esquerda radical a se organizarem não somente nas ruas, mas nas redes sociais também, uma vez que o meio digital é muito utilizado entre a atual juventude de conjunto. Em contrapartida, a rede social não pode ser considerada por esta juventude a única forma de combate ao sistema capitalista, principalmente quando se trata da classe trabalhadora de conjunto, que em todos os momentos históricos conquistou direitos básicos por meio da luta e do enfrentamento.
Dessa maneira, a juventude de esquerda radical necessita repaginar-se para voltar a ocupar espaços além dos que a cerca e promover atividades culturais em pequenas células, encontros em lugares periféricos e chamados às lutas e às ruas para os jovens de conjunto e marginalizados/as que sofrem descasos, são violentados/as todos os dias pela “democracia” liberal e são excluídos/as das discussões políticas para impossibilitar principalmente que se enxerguem como classe trabalhadora.