O 28 de junho de 1969 foi um marco para a mudança qualitativa das lutas pelos direitos da população LGBT+. Lutas já existiam, mas nessa batalha de Stonewall, em Nova York, a revolta contra as constantes batidas policiais LGBTfóbicas durou três dias pela Christopher Street, teve repercussão mundial, levou à organização de Paradas LGBT+ por todo o mundo e à consolidação desta data como o Dia do Orgulho LGBT+.
De lá para cá, houve muitos avanços, especialmente em países mais desenvolvidos, em relação aos direitos e ao debate público sobre o respeito à diversidade.
Porém, em muitos países, especialmente da Ásia e África, os direitos dessa população têm sido retirados de forma violenta. Uganda se incluiu nessa lista, em pleno 2023, pois foi sancionada a lei que pune práticas homossexuais com pena de morte. Algo que já ocorre na Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Nigéria, Mauritânia e Brunei. Outros países também têm leis que punem e, em certos casos, aplicam pena de morte como Afeganistão, Paquistão, Catar, Somália e Emirados Árabes Unidos. São países com origem islâmica fundamentalista ou países africanos, que foram colonizados pela Coroa Britânica, mas, que não adquiriram a herança de uma cultura que descriminalizou a homossexualidade em 1967.
Contudo, mesmo em países onde não há leis restritivas à liberdade de gênero e sexualidade como no Brasil, não significa que a violência deixou de acontecer, pelo contrário, ainda existe e com muita frequência.
A violência LGBTfóbica no Brasil
O Dossiê 2022 de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, realizado por diversas organizações da sociedade civil, reúne uma pesquisa que evidencia que nosso país continua matando essa população devido ao preconceito com a sexualidade não-heteronormativa e devido às identidades de gênero fora do padrão cisgênero.
No ano passado, foram registradas 273 mortes violentas de LGBT+ devido ao preconceito. E mesmo após os assassinatos sequer tiveram velório e enterro que respeitassem seu nome e sua identidade de gênero, conforme relatos de pessoas transsexuais, evidenciando que até na morte as pessoas trans são violentadas.
O assassinato de travestis e mulheres transsexuais representa maioria (58,24%), seguido por homens gays (35,16%), na sequência lésbicas (2,93%), homens trans e pessoas transmasculinas (2,93%), pessoa não-binária (0,37%) e outros segmentos (0,37%).
Importante refletir que de todos os casos de mortes de homens trans, somente um foi assassinato, os demais foram suicídio. Evidenciando que a violência não se faz somente na brutalidade física, mas também nos diversos âmbitos que levam à morte, como a violência psicológica.
O número total de suicídios de pessoas LGBT+, em 2022, foi de 10,99% e ficou atrás apenas do número de assassinatos que configura maioria, sendo 83,52% dos casos. Outros tipos de mortes, levam 5,49% de vidas LGBT+, como desaparecimentos de corpos, afogamentos e mortes sem conhecimento da causa.
Aqui temos um agravante trágico, conforme esses dados e a análise dos dados mundial realizada pela ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata travestis e pessoas transsexuais no mundo pelo 14º ano consecutivo. Tragédia a qual nenhuma política pública foi apresentada e que nenhum governo apresentou formas de enfrentar tamanha violência.
Outro dado que destacamos diz sobre a faixa etária, pois a maioria dessas pessoas violentadas é de jovens de 20 a 29 anos (33,33%) e seguida por pessoas de 30 a 39 anos (19,05%). Em relação à raça/etnia houve muita dificuldade de coleta de dados, pois muitos casos não são declarados. No entanto, podemos considerar a violência contra a população negra no país que representou 33,33% dos casos, indígenas 0,73% e não informados chega a 31,5%.
A falta de emprego para a população LGBT também ceifa vidas
Em relação ao mundo do trabalho, destaca-se a falta de oportunidades de emprego para LGBT+ e sua relação direta com a violência sofrida, pois 62,64% das pessoas mortas não apresentaram uma profissão informada e 8,79% são pessoas que atuam na prostituição. Destacamos novamente que, desses últimos casos, somente 01 pessoa morta não era travesti ou mulher trans, evidenciando que a população T ainda recebe as piores colocações no mercado de trabalho e é a mais violentada nesses locais também.
Enfim, esses poucos dados mostram o quanto há necessidade de mudanças em nossa sociedade, de defesa da luta árdua contra a violência e por vida da população LGBT+.