Uma conquista, Assange está livre
Nessa terça-feira, 25 de junho, o ativista Julian Assange deixou a prisão na Grã-Bretanha. Fez um acordo com o governo dos Estados Unidos que há anos tenta extraditá-lo para julgamento nos termos da Lei de Espionagem e em território estadunidense. Um dos absurdos é que Assange tem cidadania australiana.
O acordo consiste, basicamente, em se declarar culpado em uma acusação (conspiração para obter e divulgar documentos classificados de defesa nacional) e comparecer em um tribunal das Ilhas Marianas do Norte, “território dos Estados Unidos”, no Oceano Pacífico.
Por essa acusação, a condenação é de prisão por até 62 meses, mas descontando 1.901 dias que já esteve preso, em Belmarsh, não voltaria à prisão. O processo movido pelo governo dos Estados Unidos previa uma condenação de 175 anos na cadeia.
O crime não cometido por Assange
Assange é um jornalista e foi criador da WikiLeaks, ferramenta digital formada por ativistas com a principal atividade de divulgar documentos secretos e sigilosos que recebiam.
A acusação e o processo judicial contra Assange foram por ter divulgado as informações que a analista de inteligência do Exército dos Estados Unidos, Chelsea Manning, repassou ao WikiLeaks sobre as atividades das forças armadas estadunidense nas invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003).
Essas informações foram divulgadas entre 2010 e 2011, incluíam cerca de 750.000 documentos que mostravam como os militares mataram centenas de civis em “incidentes” não divulgados durante a guerra no Afeganistão. Os arquivos vazados sobre guerra no Iraque revelaram que 66.000 civis foram mortos.
Foram divulgados mais 91.000 documentos relacionados à invasão no Afeganistão até julho de 2010. Incluíam imagens do ataque aéreo a Granai liderado pelos Estados Unidos em 2009 que matou por volta de 147 civis.
Outro vídeo de 2007, gravado de um helicóptero Apache do exército estadunidense, confirma as mortes dos jornalistas da Reuters (Namir Noor-Eldeen, Saeed Chmagh) e outras nove pessoas, além de ferir gravemente duas crianças. Também tinha imagens das forças armadas dos Estados Unidos disparando contra uma Van que recolhia os corpos.
Essas mensagens revelam apenas uma fração de como é esse sistema. O ódio do governo britânico contra Assange revela que a Inglaterra também estava envolvida nessas atrocidades e crueldades.
A libertação de Assange é uma vitória e foi conquistada com apoio de ativistas e uma campanha mundial por sua liberdade realizada por sindicatos, organizações políticas, populares, etc. É uma demonstração de força das lutas, apoios e campanhas políticas a favor dos lutadores. Demonstra que o imperialismo pode ser obrigado a recuar.
Dá ânimo também para continuarmos e reforçarmos as lutas contra o governo de Israel, que aplica os mesmos desmandos, e aumentarmos a solidariedade ao povo palestino.
A diplomacia secreta dos crimes de governos capitalistas
O ataque do governo dos Estados Unidos, com o apoio do governo sueco e inglês, contra Assange e WikiLeaks demonstra o significado da diplomacia capitalista de manter em segredo os crimes, as ações e os acordos mais espúrios dos governos contra os vários povos do mundo.
Agem para manter secretas as informações de interesse público e sob controle de um pequeno grupo de pessoas que controla o aparato estatal, é parte e está a serviço da burguesia e não aceita que tomemos conhecimento do que fazem “nas sombras”.
Em tempos de avanço do caráter destrutivo do capital, os países imperialistas têm muito mais elementos para esconder e a tecnologia permite também a ampliação e sofisticação de seus métodos de destruição, espionagem, sabotagem e repressão contra os povos. Dessa forma, quanto mais a burguesia e seus governos intensificam as ações para funcionamento desse sistema, menos democracia (mesmo a burguesa) teremos.
A “democracia” no capitalismo é assim. Fala-se em liberdade de imprensa, mas seleciona o que será divulgado. Controla todos os meios de comunicação, quando a imprensa independente atua é perseguida. São censurados aqueles que tornam públicas as informações que são de nosso interesse.
A necessidade de democracia operária, construída num sistema socialista, não é para censurar a classe trabalhadora, seus meios de comunicação e não precisará de diplomacia secreta. Um exemplo se apresentou no processo da Revolução Russa, em que os primeiros atos do governo revolucionário foram de tornar público os acordos diplomáticos secretos sobre a divisão dos espólios da Primeira Guerra Mundial e colocaram fim à diplomacia secreta. Dessa forma, as negociações de paz com a Alemanha (o Tratado de Brest-Litovski) eram debatidas e decididas pelos Soviets (Conselho e Assembleias de trabalhadores e trabalhadoras).
Trótski escreveu que “O governo dos trabalhadores e camponeses abole a diplomacia secreta, suas intrigas, códigos e mentiras. Não temos nada a esconder”.