Pedro Eduardo Graça Aranha
Professor, ativista e idealizador da Coalizão pelo Clima – movimento anticapitalista de enfrentamento às emergências climáticas.
Pesquisador da FIOCRUZ.
Nos últimos anos, a luta climática ganhou um protagonismo inegável, especialmente entre os jovens das periferias. Eles são frequentemente levados a acreditar que a solução para as crises ambientais reside em conferências como as COP (Conferências das Partes) e em iniciativas de capitalismo verde. No entanto, essa crença pode se tornar uma armadilha, desviando a atenção das verdadeiras causas das crises ambientais e sociais: o modo de produção capitalista.
As mudanças climáticas têm se manifestado de maneira alarmante, resultando em desastres naturais, escassez de recursos e desigualdades sociais. As periferias urbanas, que frequentemente enfrentam problemas como falta de infraestrutura e serviços básicos, são as mais afetadas. Neste cenário, a juventude emerge como uma força vital, buscando soluções e alternativas que podem melhorar suas condições de vida e preservar o planeta.
As COPs do Clima têm sido amplamente divulgadas como espaços de negociação e esperança. No entanto, a eficácia dessas conferências é questionável. Muitas vezes, elas se tornam palcos para discursos vazios, onde promessas são feitas, mas pouco é concretizado. O discurso de soluções “sustentáveis” pode ser sedutor, mas muitas vezes ignora a necessidade de mudanças estruturais profundas.
O capitalismo verde apresenta-se como uma alternativa viável para resolver a crise climática. Propõe que a inovação tecnológica e o mercado sejam as chaves para a sustentabilidade. No entanto, essa abordagem muitas vezes esconde os danos causados pela exploração desenfreada de recursos naturais e pelo consumo excessivo.
A ideia de que o capitalismo pode se tornar “verde” ignora o fato de que a lógica capitalista é baseada na exploração e no crescimento contínuo, o que é intrinsecamente insustentável. Assim, as soluções propostas não atacam as raízes do problema, mas sim tentam administrar suas consequências.
Nos últimos anos, figuras influentes da sociedade civil e do ativismo ambiental começaram a aceitar parcerias com grandes corporações e governos que apoiam práticas de mineração e extração de petróleo. Essa cooptação enfraquece a luta pela justiça ambiental, pois os interesses comerciais se sobrepõem às necessidades das comunidades afetadas.
Essas alianças criam uma ilusão de desenvolvimento mais justo equilibrado com natureza a e os povos, enquanto na realidade perpetuam um sistema que favorece os poderosos e marginaliza ainda mais os vulneráveis. A luta justiça climática precisa ser autêntica e centrada nas vozes das comunidades, e não nas agendas corporativas ou que mantenha poder estabelecido.
A verdadeira transformação vem da luta socioambiental anticapitalista que desafia as estruturas de poder existentes. Movimentos anticapitalistas e coletivos populares têm mostrado que a luta pelo meio ambiente deve estar intrinsecamente ligada à luta por justiça social. Esses movimentos questionam o modelo de produção atual e buscam alternativas que respeitem tanto as pessoas quanto o planeta.
Esses grupos frequentemente trabalham em torno de práticas de agroecologia, energias renováveis comunitárias e outras iniciativas que colocam a justiça e a equidade no centro das soluções. Eles também enfatizam a importância de romper com modo de produção capitalista e implementar sistema econômico que priorize o bem-estar da coletividade em vez do lucro individual.
A educação ambiental climática desempenha um papel fundamental na construção de uma consciência crítica sobre as questões climáticas e sociais. É essencial que os jovens, especialmente aqueles das periferias, sejam informados sobre os impactos reais do capitalismo e da exploração ambiental. A formação de um pensamento crítico permite que eles questionem narrativas dominantes e busquem soluções que realmente atendam às suas necessidades.
Programas de educação popular e iniciativas comunitárias podem ajudar a promover essa consciência, permitindo que os jovens entendam a interconexão entre justiça social e ambiental. Esse tipo de educação não apenas capacita, mas também gera uma rede de solidariedade e ação coletiva.
A luta pela justiça ambiental não pode ser feita de forma isolada. A ação coletiva é vital para enfrentar os desafios impostos pelo capitalismo e pelas mudanças climáticas. Redes de solidariedade, movimentos de base e coalizões entre diferentes grupos podem amplificar as vozes das comunidades afetadas e criar pressão sobre os tomadores de decisão e conduzir para nova governança com meio ambiente esteja no centro das tomadas de decisão.
Essas ações coletivas podem se manifestar de diversas maneiras, desde protestos e mobilizações até a criação de alternativas sustentáveis. A interseccionalidade das lutas — que considera questões de raça, classe, gênero e outras opressões — é crucial para construir uma resistência que seja inclusiva e eficaz.
Vender ilusões tem sido uma estratégia recorrente para manter o status quo e desviar a atenção das verdadeiras mudanças necessárias. É fundamental que os jovens e as comunidades periféricas estejam cientes de que as soluções para a crise climática não virão de fórmulas mágicas ou acordos em conferências. A verdadeira transformação exige uma luta coletiva e a construção de alternativas que desafiem o capitalismo.
Para que essa luta seja efetiva, é preciso fortalecer as vozes das periferias, promover a educação ambiental climática crítica e construir um movimento anticapitalista que coloque a justiça socioambiental e governança climática no centro da agenda. Somente assim poderemos criar um mundo humano justo e com equidade e equilíbrio ecológico para todos.