Boulos foi nomeado Ministro do governo Lula. Vai trabalhar na Secretaria Geral, um dos cargos mais importantes em funções de coordenação da ‘máquina’, elaboração de políticas e planejamento do governo. Também é responsável pela interlocução com os movimentos sociais. É um cargo chave no executivo federal.
Para aceitar, ele abriu mão de se candidatar a qualquer cargo nas próximas eleições, esta era a condição de Lula: ficar no cargo até o fim do governo. Boulos aceitou de bom grado tal exigência. Curiosamente, muitos tratam tal decisão como algo “pessoal’, algo profundamente deseducativo para uma militância socialista.
Além disso, dentro do PSOL, ele lidera o movimento de aproximação do partido com o governo. A maioria da bancada, também liderada por ele, já tem uma postura de base de sustentação do executivo e só vota contra as propostas governistas em questões mais sensíveis. Um exemplo mais distante, mas importante, foi a demissão do assessor econômico David Deccache por se colocar contra a política econômica do governo. Para manter essa linha de defesa do governo, a maioria governista da bancada federal tem impedido que os parlamentares mais críticos ocupem a liderança do partido. Foi essa ‘firmeza’ na defesa da política de Lula que o qualificou para o cargo.
Adaptação ao parlamento
Boulos aceitar ser ministro de Lula levanta várias questões: a adaptação ao governismo, ao parlamento e o já consolidado retrocesso do PSOL.
O novo ministro de Lula surgiu como direção do MTST, um importante e ousado movimento de moradia que mobilizava milhares de pessoas conquistando casas para famílias pobres. Foi se apoiando nesse movimento que se elegeu Deputado Federal e chegou ao segundo turno nas eleições para prefeito de São Paulo em 2020 e 2024.
A ideia de utilizar o parlamento para denunciar a situação de miséria e falta de moradia e assim ajudar avançar a luta foi substituída pela ilusão do parlamento ser um espaço de conquistas em si mesmo. É muita acomodação e cabe destacar que durante o governo Lula até mesmo as ocupações do MTST diminuíram bastante.
O próximo passo da acomodação política foi mudar de opinião para pior. A campanha para a prefeitura em 2024 já mostrou um Boulos “sem radicalismo” (defendeu ampliar o efetivo da GCM, alianças eleitorais mais amplas, etc.). Essa mudança da postura política é uma repetição (trágica) do que tem ocorrido com muitos setores da esquerda eleitoreira que, após chegarem no parlamento, vão se adaptando aos privilégios e se acomodam. A consequência é “suavizar” o programa.
E PSOL segue o mesmo caminho
Esse movimento de Boulos também se explica pelo próprio desenvolvimento do PSOL. Logo após a eleição de 2022, o partido decidiu ser parte da base aliada de Lula no Congresso sem indicar nomes, mas liberando os filiados para assumirem cargos e se fossem da direção, teriam apenas de se licenciar e não poderiam falar em nome do partido. Importante lembrar que o partido abriu mão da candidatura própria à presidência para apoiar Lula e Alckmin.
O PSOL, ainda que com muitos problemas, nasce contra a política do primeiro governo petista que tinha aprovado a reforma da previdência em 2003 e se propunha ser um partido à esquerda do PT, mas após 22 anos se tornou muito diferente.
Dominado pelas correntes políticas reformistas nem cogita defender a ruptura com o sistema e está cada vez mais abraçado à institucionalidade em todos os níveis. Internamente, os espaços de base são escassos e a política é decidida principalmente pelos parlamentares e à base cabe seguir.
Esse retrocesso do partido, mesmo de uma maneira desigual, atinge as principais correntes, a maioria delas presa a essa lógica parlamentar, priorizando (ou sendo sugadas) a institucionalidade e com muitos militantes profissionalizados e nos gabinetes. Assim se aprofunda a burocratização. Sem dúvida há correntes revolucionárias no partido, mas cada vez mais isoladas e “falando ao vento”.
O controle sobre os parlamentares e a burocratização
As experiências com a participação da esquerda anticapitalista nos parlamentos têm sido trágicas, com muitas capitulações e abandono do programa radical em nome de conseguir mais votos. Como resistência a esse processo algumas correntes adotam uma posição “purista” de nem participar dos pleitos eleitorais. A experiência demonstra que essa tática leva ao isolamento político, também “falando para si”.
No nosso modo de entender, a burocratização é a consequência do acomodamento a privilégios que o parlamento burguês oferece como maiores salários, viagens pagas, cargos e um ‘status’ diferenciado. É uma vida bem diferente daquela vivida pelo trabalhador.
A forma de combater a burocratização é atacando esses privilégios, com medidas políticas de controle sobre a atividade do parlamentar e assessores dos gabinetes. A corrente/partido pode adotar medidas para os parlamentares e assessores como:
– Limitar o salário do parlamentar e assessores para que não ganhem mais do que a média de um trabalhador qualificado;
– O mandato deve ser do partido e, portanto, a militância deve decidir sobre o exercício do mandato;
– Limitação da quantidade de mandatos para não criar “políticos profissionais” nem “carreiristas”, além de fazer o militante voltar para a base;
Ninguém nasce burocrata, são as condições que as pessoas estão inseridas (privilégios, status, etc.) que levam à burocratização e por isso tais medidas – entre outras – focam em atacar qualquer tipo de privilégio ao exercer um mandato eletivo.



