Nos últimos dias o governo estadunidense posicionou sua força naval na Costa Venezuelana, região do Caribe. São aproximadamente 10 mil soldados, armas de longo alcance, submarino, porta aviões e aviões militares. A ameaça é diretamente contra a soberania da Venezuela.
Junto com essa ação, o governo estadunidense, oferece indenização para quem informar onde está Maduro e autoriza a CIA a agir em solo venezuelano (desde a colaboração com a oposição burguesa até ações letais no território) e uma acusação – sem qualquer prova – de que o governo Maduro está envolvido com tráfico internacional.
As forças militares têm realizado várias provocações como voo sobre o território venezuelano e bombardeiro de barcos em águas caribenhas, as quais já mataram pelo menos 27 pessoas em cinco incidentes diferentes, incluindo pescadores.
Essa ação é mais uma jogada de Trump, é a expressão de parte do esforço dos Estados em busca de recuperarem sua hegemonia e força no cenário mundial. Tem combinado negociações (normalmente com a faca no pescoço do adversário) e ações de força, como o apoio a Israel nos ataques ao Líbano, Iêmen, Síria e contra os palestinos em Gaza. E agora com o deslocamento dessa força militar na América Latina.
Um problema de todos os povos da América Latina
Essa ação coordenada por Trump representa uma grave ameaça, não só ao povo venezuelano, mas a todos os países da América Latina. Por isso, é preciso uma forte reação de todos os povos e movimentos sociais em resposta às ameaças imperialistas. Primeiro, porque representa uma intervenção política e militar em país que é soberano. Segundo, se vitoriosa, pode corroborar para ações igualmente autoritárias em outros territórios latino-americanos, legitimando os Estados Unidos a intervirem política e economicamente em qualquer outro país e derrubar governos que não fossem do seu agrado ideológico. Terceiro, o povo venezuelano é que deve decidir seu destino político.
O imperialismo estadunidense sempre tratou a América Latina como seu quintal, uma região que deve seguir todas as orientações que vêm de ‘Washington’. Na nossa história colecionamos momentos de intervenção imperialista em territórios latino-americanos, como o apoio e participação direta em golpes de Estado contra governos que tivessem qualquer política de resistência, depois foram os “manobras parlamentares”, como contra Lugo no Paraguai e o impeachment de Dilma no Brasil. Todavia, a história se repete e agora o governo estadunidense inaugura uma nova fase da intervenção imperialista na América Latina, e não por acaso, estamos passando por um momento em que minerais preciosos, como o nióbio, terras-raras, lítio e petróleo são fundamentais para o processo produtivo mundial e são abundantes nesta região.
Nos últimos dias Trump direciona seu ódio a Colômbia que também é importante geograficamente quando se trata do controle das riquezas naturais, tendo um governo com relativa independência dos Estados Unidos e ações progressistas como o apoio ao povo palestino e reformas sociais.
Podemos incluir, como mais uma jogada do imperialismo estadunidense, o tarifaço contra o Brasil e a pressão contra a soberania nacional na tentativa de salvar Bolsonaro e os golpistas do 8 de janeiro.
Várias mentiras e uma verdade
Os Estados Unidos são um dos maiores consumidores de drogas do mundo, toneladas de coca, maconha, e todo tipo de opioides são largamente consumidos e, no lugar de política pública para enfrentar esse problema, aplicam a chamada “guerra às drogas”, mundialmente conhecida por fracassar em combater o tráfico, sendo mais uma invenção para legitimar a perseguição e assassinatos de jovens pobres e negros.
É essa “guerra às drogas”, seguindo a mesma lógica autoritária, que está sendo usada como desculpa para cercar a Venezuela. E assim surge a primeira mentira: a Venezuela não produz e nem processa coca em quantidade significante. Equador, Peru, Colômbia e Bolívia são os principais produtores da coca. A segunda mentira é que o fentanil (opioide, droga derivada do ópio) não é produzida na Venezuela, mas processada no México e o transporte é feito em pequenas quantidades (e alta lucratividade), por rotas controladas pelo crime organizado estadunidense. A terceira mentira é que a rota marítima do tráfico não é pelo Mar do Caribe (onde se localiza a Venezuela) e sim pelo Oceano Pacífico (87% do tráfico global sai pelo Pacífico, especialmente dos portos colombianos e equatorianos) e tem como origem principalmente a Colômbia e o Equador. Esses dados acima são reconhecidos pelo “insuspeito” jornal New York Times a partir de números oficiais das Nações Unidas e da agência antidrogas dos Estados Unidos, a DEA e outros órgãos oficiais.
E a verdade é: o principal interesse dos Estados Unidos é o controle sobre o petróleo, pois a Venezuela tem a maior reserva do mundo, estimada em 320 bilhões de barris.
O que é a extrema-direita venezuelana
Outro objetivo de Trump é derrubar o governo Maduro e colocar em seu lugar alguém da extrema-direita venezuelana, principal força de oposição a Maduro e liderada por Maria Corina Machado, uma aliada incondicional dos Estados Unidos e de Israel, sendo apoiadora do cerco (e da invasão) militar contra a Venezuela. Também declarou apoio ao genocídio israelense contra o povo palestino.
Mas, quem é Maria Corina Machado?
De origem familiar rica, tem atuação política desde a tentativa de golpe em 2002 contra Chávez. Também é impulsionadora da ONG Súmate, entidade envolvida na preparação do golpe, recebendo dinheiro de entidades estadunidenses financiadoras de grupos da extrema-direita fora dos Estados Unidos.
Maria Corina foi representante do governo do Panamá na OEA (uma venezuelana representando o Panamá!), recebida por George Bush (também articulador do golpe em 2002) na Casa Branca. Também foi uma das principais lideranças das manifestações de 2014 e 2017, protagonizadas pelos guarimbas (milicianos de extrema-direita) que chegaram a queimar Orlando Figuera por ser negro e ser parecido com um chavista. Por fim, mas não menos importante, é uma das signatárias da Carta de Madri (manifesto da extrema-direita mundial) junto com Eduardo Bolsonaro, Milei, a italiana Meloni, etc.
Coincidência ou não, ao mesmo tempo que Trump ataca a Venezuela e o povo venezuelano, Maria Corina ganhou o Nobel da Paz, algo estranho, pois defende a invasão militar estadunidense e consequentemente a morte dos que resistirem, ou seja, paz (e aliança) somente aos seus.
Assim, fica evidente que Trump apoia a extrema-direita porque é a via mais rápida para controlar o petróleo venezuelano e uma base para atacar os demais países latino-americanos, como Maria Corina declarou “nossa mensagem às companhias petrolíferas é: nós queremos [elas] aqui rápido”.
Maduro e o regime buscam a negociação
Acuado pela pressão imperialista estadunidense, Maduro reagiu às possíveis ofensivas e está armando a Milícia Nacional Bolivariana, formada sobretudo por populares e diretamente sob influência de um setor de esquerda do chavismo, expondo uma certa disposição em defender a soberania venezuelana.Paralelamente, compreendendo que somente resistir não é o suficiente, Maduro tem se disponibilizado para negociações, principalmente em ceder a extração de parte das riquezas minerais para empresas estrangeiras nos moldes que opera a Chevron (petrolífera dos Estados Unidos). A carta enviada por Maduro, é uma demonstração do seu desejo de estabelecer negociações para “preservar la paz com diálogo e entendimento em todo o hemisfério” e termina dizendo: “Presidente, espero que juntos possamos derrotar as falsidades que têm manchado nosso relacionamento, que deve ser histórico e pacífico”.
Ainda que não possamos acreditar 100%, nos últimos dias circulou pela imprensa que a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez – com o consentimento de Maduro – teria oferecido uma proposta de saída de Maduro do governo (e garantia de exílio), sendo ela sua sucessora. Também devemos considerar que não interessa à chamada “boliburguesia” (empresários que fazem negócios com o Estado venezuelano e são parte do bolivarianismo) um conflito aberto com os Estados Unidos, última opção e só em caso de seus privilégios estarem em risco.
Apoiamos, portanto, o povo venezuelano e a sua unidade para enfrentar uma intervenção militar imperialista. Nos colocamos no campo de oposição de esquerda ao governo Maduro e sua corrente política. Por óbvio, também estamos em campo oposto ao da oposição burguesa e ao imperialismo. Sendo assim, acreditamos que cabe ao povo venezuelano decidir seu destino político, ou seja, defendemos a autodeterminação do povo frente ao governo e aos demais setores da burguesia, apoiando todas as suas lutas.
Assim, uma das principais tarefas da esquerda anticapitalista e do movimento social da América Latina é a luta contra o imperialismo dos Estados Unidos, exigindo a retirada de todo aparato militar da costa venezuelana. No caso de invasão militar, nos somamos à resistência militar do povo venezuelano, empenhando todos os esforços para a derrota do imperialismo ianque.
– Fora imperialismo da Venezuela e da América Latina.
– Pela autodeterminação do povo venezuelano



