Emancipação Socialista é parte da construção do MFSR (Movimento por uma Frente Socialista Revolucionária), juntamente com outras organizações e militantes independentes.
Publicamos abaixo a resolução sobre as eleições no primeiro turno e a posição para o segundo turno.
Estamos juntos no chamado ao voto em Boulos no segundo turno em São Paulo, mas…
Exigimos das direções da classe trabalhadora e da juventude – CUT, CTB, CONLUTAS E UNE – o chamado imediato aos trabalhadores, ao movimento social, ao movimento popular e à juventude:
1. Para elaboração organizada e democrática de uma plataforma de luta comum;
2. Para elaboração de um calendário unificado de lutas:
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Para derrotar o arcabouço fiscal, as privatizações e os planos de ataque aos trabalhadores para manter intacto e em dia o pagamento da dívida pública.
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Para derrotar o ataque às greves que vem sendo implementando pelo governo e pelos patrões (IBAMA/ICM-BIO, INSS, saúde federal do rio de janeiro, estudantes da UERJ).
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Para derrotar as ameaças da extrema direita.
Não derrotaremos o arrocho salarial, a carestia, o descaso com o meio ambiente e com o povo e o perigo dos retrocessos que vêm da extrema direita apenas com o voto!
1 – uma vitória da direita em suas diversas variantes – direita, centro-direita e extrema direita
Os números finais do primeiro turno das eleições, indicam que os setores de direita e de extrema-direita ampliaram sua influência política pelo país. Os eleitos foram, em sua maioria absoluta, candidatos de partidos desses setores. Nas cidades onde a eleição foi decidida no 1° turno, partidos como PSD, União Brasil, PL e Republicanos conquistaram várias prefeituras em cidades importantes como Rio de janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, entre outras.
Mesmo em cidades onde PT ou PSOL disputa o 2° segundo turno, a maioria dos votos foi para os setores da direita e extrema-direita. Em São Paulo, por exemplo, a direita disputava com dois candidatos (um de extrema direita e outro, um pouco mais ao centro, com apoio declarado de Bolsonaro). Somados, chegaram a 60% dos votos.
Ao lado disso, verifica-se o completo fracasso e derrota do projeto de conciliação de classes implementado pelo governo Lula/Alckmin, derrotado em todas as capitais até agora e na maioria esmagadora dos municípios e, segundo pesquisas eleitorais para o 2º turno, a candidatura PSOL/PT está trilhando o mesmo caminho, que, não surgindo nenhum fato novo, só poderia ter uma chance de ser revertido caso a campanha se voltasse para impulsionar a mobilização popular e da classe trabalhadora por suas reivindicações contra o governo e os patrões, como o direito a energia elétrica, por exemplo, e contra a direita eleitoralmente unificada (direita, centro-direita e extrema direita).
2 – São Paulo como centro da luta contra a conciliação de classes e a extrema direita, nas eleições e além
Ao seguir o receituário de Lula e da direção do PT; Boulos e as direções do PSOL ganham um pequeno eleitorado de classe média no 1º Turno, mas perdem praticamente a metade da classe trabalhadora assalariada até dois salários-mínimos no 2º Turno. O terreno da luta de classes, que vai muito além das eleições, cobra muito caro. Abandonar a pauta anticapitalista da classe trabalhadora e a independência de classe para compartilhar o programa da direita e extrema direita, por exemplo, na segurança pública, defendendo o reforço da Guarda Metropolitana Armada e outras medidas de repressão policial, ou prometer mais empreendedorismo de plataformas que nada mais é do que mais-trabalho sem regulamentação nenhuma para aumentar a exploração do sistema capitalista, ou simplesmente se descaracterizar dizendo que não é mais o representante das lutas de ocupação dos sem-teto por moradia digna, ou achar que se omitir contra o genocídio do Estado Sionista de Netanyahu realizado contra os palestinos e os povos do Oriente Médio daria mais votos, se mostrou um fracasso total de política eleitoral de colaboração de classes e de gerenciamento, puro e simples, dos interesses do capital no município de são paulo.
A classe trabalhadora, a juventude e os movimentos sociais e populares ao não verem nas candidaturas do PT e do PSOL, entre elas a de Boulos, uma alternativa clara às agruras e mazelas que o sistema capitalista vem lhes impondo no dia a dia, seja no trabalho, seja em suas casas e nos bairros onde moram, seja nos transportes, seja na saúde e na educação, seja no descaso com o meio ambiente e com as minorias raciais, de gênero e religiosas, se dividiram, com parte significativa aderindo ao voto que aparentemente era o “antissistema”, representado pela extrema direita que, na ausência de uma alternativa à esquerda, captura esses setores, com um mix ideológico e marqueteiro de mentiras, rancores, misticismo, combatividade, falsa religiosidade, conservadorismo reacionário e/ou empreendedorismo. Um outro setor, aos milhares, ao não ter uma alternativa que represente seus reais interesses, caminharam para a abstenção, que resultou praticamente em 2 milhões de votos.
A fragilidade da esquerda revolucionária (as correntes do MFSR, o PSTU, a CST, o MRT e a UP) e a campanha morna e comportada de Boulos que não se envolveu nos grandes temas polêmicos nem apresentou um programa de apoio às lutas e reivindicações do funcionalismo municipal e muito menos apontou para uma ruptura com a política econômica da dupla Tarcísio-Nunes com, por exemplo, um programa de luta por (pelo menos) reestatizar os serviços públicos com redução ou congelamento das tarifas durante seu mandato, abriu a porta para que as diversas variantes da direita em São Paulo (a direita, a extrema direita e a centro-direita) ocupassem o espaço político do processo eleitoral nas ruas e na consciência difusa de maior parte do eleitorado, e entrassem em uma concorrência a céu aberto pela disputa de milhões de eleitores das classes médias e da classe trabalhadora. A disputa de Bolsonaro, Tarcísio, Malafaia, Marçal pela direção das massas na grande São Paulo reflete a disputa da direção da extrema direita no Brasil nas eleições do principal polo financeiro e industrial do país.
Isso só é possível porque Lula, Boulos e as direções do PT e do PSOL adotam a colaboração de classes na forma política de defesa da democracia dos ricos e da governabilidade de lula até 2026. Política que, além de levar a derrotas eleitorais premeditadas dessa esquerda liberal em todo o país, é insustentável, visto que quanto mais se amplia a presença da burguesia de direita e extrema direita nas instituições do estado, crescem as ameaças às frágeis e definhadas liberdades democráticas que sobrevivem no estado capitalista brasileiro e aumentam as ameaças contra as lutas e as organizações dos trabalhadores, da juventude, do movimento social e popular, das mulheres, dos negros, dos povos originários e da população LGBTQUIA+, inclusive contra a própria esquerda da ordem que Lula, Boulos e as direções do PT e do PSOL representam.
3 – Em síntese…
A vitória eleitoral da direita, em seus diferentes espectros, tende a jogar Lula (para assegurar a governabilidade) e Boulos, se eleito, mais à direita e forçá-los a enfrentar as lutas que virão com mais dureza do que Lula/PT/PSOL já usaram contra as greves da educação federal, do IBAMA/ICMBIO, do INSS e dos estudantes da UERJ no Rio de Janeiro.
Por outro lado, uma vitória de Boulos em São Paulo tenderia a animar a vanguarda de lutadores e os setores avançados de massa da classe trabalhadora, da juventude e do movimento social e popular, o que poderia ter um impacto positivo na disposição para lutar.
De maneira alguma, estamos defendendo uma política de voto útil, crítico, mal menor ou apoio político a Boulos, mas entendemos que um chamado de voto na candidatura PSOL/PT, se faz necessária não só para diminuir o espaço de mobilização da extrema-direita que certamente se articula para aumentar sua pressão no próximo período com vistas às eleições de 2026, mas também para estarmos juntos, dialogando com setores importantes dos lutadores que acreditam (e têm razão quanto à forma) que Boulos é diferente de Nunes – do ponto de vista do conteúdo, da classe para quem governam, são iguais pois ambos governam tendo como centro a administração dos negócios dos grandes capitalistas na cidade de São Paulo.
Dessa forma, por todos os ângulos que se olhe, seja o das lutas futuras oi o do fortalecimento da direita, qualquer indicação de voto nulo em São Paulo é nefasta. Para as cidades em que somente a direita e a extrema-direita se apresentarão no 2º turno, o chamado de voto nulo é válido, mas também considerando um processo permanente de lutas que se prolongue para além das eleições.
O MFSR, ao tempo em que reafirma o chamado ao voto em Boulos nesse 2º turno, afirma também que, ainda que pequena, há uma chance vencer. Nunes já demonstrou que não é imbatível. Mesmo com a máquina da prefeitura, os bilhões de reais e o tempo de TV, teve apenas 25 mil votos a mais que Boulos no primeiro turno. Mas para vencer, seria preciso uma virada na campanha que parece que Boulos e Lula não estão dispostos a fazer. Seria preciso assumir um programa claro de ruptura com a política econômica de Tarcísio/Nunes e se colocar frontalmente contra a Faria Lima e ao lado das lutas e das reivindicações do funcionalismo municipal, dos camelôs, do povo pobre e preto das quebradas e periferias de São Paulo, Sem teto, sem emprego e sem esperança; apresentar um plano de reestatização dos serviços públicos de água, transporte, energia elétrica sob controle dos trabalhadores e usuários e com tarifa zero para os trabalhadores e moradores de favelas e periferias; se posicionar sem medo por um programa ambiental anticapitalista; estar a favor da reparação para o povo preto e contra a política de guerra às drogas; e se posicionar claramente ao lado do povo palestino e libanês contra o genocídio perpetrado pelo estado sionista de israel no oriente médio.
4 – Articulação nacional para 1) lutar contra os planos econômicos elaborados pelo governo e pelos patrões (executivo e congresso nacional) para atacar os trabalhadores e 2) enfrentar e derrotar a extrema-direita nas mobilizações e lutas
Ganhe Boulos ou ganhe Nunes, a cidade de São Paulo continuará a ser palco de grandes desigualdades provocadas pela exploração e opressão características do sistema capitalista e será também palco de grandes lutas. É necessário exigir que as direções da classe trabalhadora e da juventude – CUT, CTB E UNE, principalmente, mas também as centrais menores, como a CSP-CONLUTAS (que nós reivindicamos) – convoquem imediatamente uma plenária unificada e façam o chamado imediato aos trabalhadores, à juventude e às organizações do movimento social e popular para elaboração organizada e democrática de uma plataforma móvel de lutas comum e de um calendário permanente de lutas, para além das eleições, com vistas a derrotar a burguesia, o governo e a extrema direita, unificando todas as lutas e todas as demandas que se imbricam por conta do barbarismo imposto pela situação da crise mundial do capitalismo e do crescimento da extrema direita. Esse é o caminho para ir pavimentando a construção de uma nova sociedade, essa sim, justa, democrática, solidária e ambientalmente sustentável – uma sociedade socialista.