No final de agosto o país foi surpreendido por nova onda de incêndios em canaviais, plantações de frutas e seringais na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Investigações apontaram que o fogo, com focos diversos, seria criminoso e alguns suspeitos já foram detidos. A suspeita do governo federal foi a de que teria acontecido um novo Dia do Fogo, quando, em 2019, fazendeiro do Pará resolveram fazer queimadas sincronizadas para demonstrar seu apoio às políticas de desmonte da área ambiental perpetradas pelo governo Bolsonaro.
O agronegócio em sua sanha capitalista só enxerga suas melhores possibilidades de obter lucro e até para se manifestar age de maneira destrutiva. Os incêndios do interior de São Paulo estão contribuindo para a extinção do bioma da Mata Atlântica. Isso significa a morte de animais silvestres como tamanduás-bandeira, tamanduás-mirim, cobras, lagartos, gambás, macacos-prego e tatus. Foram montadas 26 unidades de atendimento para animais silvestres que foram resgatados, muitos vítimas de atropelamento ao fugirem do fogo.
O animais da pecuária, no entanto, morreram carbonizados, presos pelas cercas dos currais. Frangos, porcos e boi tiveram medo e sofreram muito nesta tragédia orquestrada por aqueles que mais lucram com a produção industrial de alimentos.
No Centro-Oeste, o estado do Mato Grosso vem sendo castigado por queimadas desde janeiro. Só em agosto foram 13600 focos de incêndio. O Pantanal é um bioma seriamente ameaçado por tais queimadas, que vêm ocorrendo, inclusive, em localidades famosas para o turismo como a Chapada dos Guimarães. A Área de Proteção Ambiental Municipal Aricá-açu, bem como a Terra Indígena Capoto Jarinã e a Aldeia Utiariti também foram atingidos pelo fogo. Esses são apenas alguns dos locais.
Crimes Ambientais Destroem Biomas
Este ano, o desmatamento aumentou em 3% no Cerrado, bioma predominante no Centro-oeste brasileiro, mas teve redução de 23% na Amazônia. O Pantanal, principal bioma do Mato Grosso do Sul, teve 663 mil hectares destruídos, tendo superado a marca negativa do ano de 2020.
No cômputo geral, porém, a Amazônia é o bioma mais devastado do Brasil. Essa degradação implica na morte de espécies vegetais e animais, chegando à extinção de inúmeras, tanto por queimadas quanto pelo desmatamento, ambos a serviço do agronegócio. Além disso, a submissão dos trabalhadores ao trabalho análogo à escravidão, dos indígenas expulsos de suas terras e expostos a condições sociais degradantes. O caso mais contundente foi o dos yanomamis, levados a uma terrível onda de fome por causa do garimpo ilegal, tão protegido no governo Bolsonaro e na gestão do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.
A Defesa do Meio Ambiente é Luta de Classes
Em 1995 foi fundada a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) com o objetivo de defender os interesses do agronegócio. Esta recebe, dede 2011, assessoria do Instituto Pensar Agronegócio (IPA), cujo objetivo é institucionalizar a agenda deste setor. Associações de empresas ligadas aos agrotóxicos, ao fumo, à soja e à proteína animal são mantenedoras do instituto.
A população, por sua vez, contribui sem saber para os lucros das empresas que estão ligadas ao agronegócio, através do consumo dos produtos transgênicos dos mercados, dos alimentos da Nestlé e da Aurora e dos derivados da celulose da Suzano e da Klabin, dentre muitos outros. Além disso, bancos como Itaú e Santander são parceiros do agronegócio. Os trabalhadores não têm como escapar das empresas que jogam o jogo sujo contra eles. Não dentro do Capitalismo!
Por trás da prática das queimadas e do desmatamento há muito mais do que suspeitos de facções criminosas que podem ser facilmente caçados e presos. O que existe é uma poderosa engrenagem que submete toda a sociedade ao seu poder econômico.
Não é Exagero Dizer que o Capitalismo Está Destruindo o Mundo
Estas mesmas empresas adotam um discurso de desenvolvimento sustentável que é uma ficção. Na prática, financiam danos severos ao meio ambiente. Os incêndios espontâneos em períodos de seca prolongadas são o resultado de uma conjunção de fatores. São eles, segundo os especialistas: o El Niño (que aquece o Oceano pacífico e eleva a temperatura do Brasil); os bloqueios atmosféricos que têm impedido a chegada de frentes frias; o aquecimento do oceano Atlântico Tropical Norte; o aumento da temperatura do planeta.
Estes fatores não consistem em eventos eminentemente naturais. A ação humana já chegou ao ponto de exercer impacto geológico. Com a entrada na era industrial, por volta de 1800, a Terra ingressou no período geológico do Antropoceno. As mudanças climáticas, portanto, são fruto da intervenção do ser humano nos cursos dos rios, da emissão de gases poluentes no ar, do desmatamento em escala industrial, da extinção de espécies da fauna e da flora devido à caça e pesca indiscriminadas e da destruição de seu habitat natural.
O Agro não É Favorecido só pela Extrema Direita
O governo Lula, neste ano de 2024, pagou de Plano Safra 10% a mais que no ano passado, concedendo crédito de mais de 400 bilhões aos grandes empresários da agricultura e da pecuária. O pretexto é o incentivo a práticas agropecuárias sustentáveis. Como não existe solução realmente sustentável dentro do Capitalismo, a concessão de crédito ao latifúndio só pode ter uma explicação: a permanência da estrutura de poder. Bancos privados como Bradesco e Itaú estão dentre as instituições que fazem parte do Plano Safra. O Banco do Brasil anunciou que este ano está oferecendo 260 bilhões, a maior quantia de sua história, para apoio a empresários e para a agricultura familiar.
A propaganda do governo Lula anuncia medidas em prol dos povos do Campo, das Águas e das Florestas. Para benefício da agricultura familiar, 4,6 milhões de propriedades com menos de 100 hectares estão na lista do plano. Porém, o investimento para financiar a produção agroecológica de quilombolas e indígenas não significa que estas populações sejam plenamente atendidas nas suas necessidades. Como a agricultura familiar ocorre em somente 23% do total de terras cultivadas, o que predomina largamente na produção brasileira é o latifúndio. E isso não vai mudar sem uma luta que seja implementada pela classe trabalhadora composta pelo povo originários, pelos quilombos, ribeirinhos e contratados das grandes fazendas.
O consumo nacional de alimentos como feijão, leite, arroz, mandioca, milho e batata é 70% oriundo da agricultura familiar. Ou seja, os latifúndios, que são a maioria das terras, estão majoritariamente voltados para o comércio exterior. Lula acena com algumas garantias para os pequenos proprietários, mas comemora que o PIB do país cresceu, graças ao agro. São os representantes deste setor aliados do governo que terão maiores vantagens. Afinal, o ministro da Agricultura e da Pecuária é um ruralista.
Lula pode pegar quem riscou os fósforos dos incêndios e até garimpeiro que matam índios. Mas a ruptura com o Sistema que só sobrevive às custas da exploração desenfreada de recursos é tarefa da classe trabalhadora organizada.