Depois de 15 meses de bombardeios sobre palestinos em Gaza e em campos de refugiados, vária operações militares na Cisjordânia, bilhões de dólares em armas, quase 50 mil pessoas mortas, destruição de escolas, hospitais e praticamente toda infraestrutura de Gaza, Israel foi obrigado a aceitar um cessar-fogo que entrou em vigor nesse domingo, dia 20 de janeiro.
A primeira fase durará 42 dias, período no qual continuam as negociações para as demais fases. A resistência palestina libera 33 pessoas e Israel terá que libertar algumas centenas de prisioneiros palestinos dos cárceres, incluindo várias crianças presas sem qualquer processo judicial. Qatar e Egito são responsáveis para garantir a implementação dessa primeira fase.
Haverá a retirada das tropas de ocupação do corredor Netzarim (a principal via de circulação em Gaza), mantendo-as não mais do que 700 metros dentro da fronteira de Gaza. A chamada travessia de Rafah (fronteira entre Gaza e Egito e por onde chega remédios, alimentos, etc.) também deverá ser liberada.
E, talvez o mais importante, a possibilidade dos palestinos retornarem para suas casas mesmo nas áreas ocupadas do território. As cenas de milhares de palestinos caminhando em direção ao local onde estavam suas casas e as comemorações nas ruas também simboliza a continuidade da luta continua e que Gaza é uma cidade palestina.
Divisões no governo Netanyahu torna o cessar-fogo ainda mais frágil
Os setores mais reacionários do sionismo e a extrema-direita israelense nunca esconderam que suas intenções era expulsar os palestinos e ocupar Gaza. Esse era o objetivo com a ação genocida e tão destruidora das forças armadas contra Gaza. Mas, agora foram obrigados recuarem. A partir desse ponto de vista, o acordo de cessar-fogo é progressivo porque obrigou esse setor recuar e dá garantias mínimas para os palestinos em Gaza. Mas, como já dissemos, é um acordo frágil.
O governo de Netanyahu se apoia principalmente na extrema-direita e nos setores mais reacionários do sionismo, os mesmos que forçaram a ação militar mortífera. Mas, foram justamente os partidos de extrema direita, principalmente, o Partido do Poder Judaico e o Partido Sionista Religioso que mais resistiram ao acordo, inclusive votando contra na reunião do gabinete.
Netanyahu conseguiu aprovar o acordo, mas com o custo de uma crise no governo, inclusive com membros do Partido do Poder Judaico (de extrema direita) renunciando aos cargos no governo, como foi o caso do Ministro da Segurança Ben-Gvir, dizendo que desiste da renúncia se os ataques contra Gaza forem retomados.
Já o Partido Sionista Religioso também ameaçou deixar o governo, mas recuou após conversas com Netanyahu (é muito provável terem feito algum acordo para os ataques aos palestinos continuarem por outros meios, como as operações militares na Cisjordânia). A saída desse partido do governo poderia levar Netanyahu perder a maioria no Knesset (parlamento israelense) e assim não ter apoio parlamentar suficiente para continuar governando.
O cinismo do imperialismo
Mostrando que cinismo não tem limites, Biden disse que o acordo foi devido a “diplomacia americana [Nota: estadunidense, pois a América é muito maior que os Estados Unidos] obstinada e meticulosa” e depois completou com “Minha diplomacia nunca cessou em seus esforços para fazer isso”. Até Trump – que odeia os povos do mundo- diz que ser ele o responsável pela trégua.
Enquanto isso, o dinheiro e armas seguem para Israel. A realidade é que os Estados Unidos sempre foram o principal sustentáculo do Estado sionista e sempre permitiram e apoiaram que continuasse o genocídio.
Sem a ajuda econômica e o apoio político externo, Israel não teria conseguido levar uma guerra dessas proporções contra os países da região. E não falamos só do apoio financeiro de mais de 23 bilhões de dólares nesses 15 meses, mas também da ampla unidade política dos países imperialistas (Inglaterra, França, Canadá, etc) em apoio às ações de Israel e ao governo de Netanyahou, seja se calando diante dos bombardeios em escolas e hospitais, das dezenas de milhares de mortes (a maioria crianças e mulheres) ou vetando todas as resoluções no Conselho de Segurança da ONU que exigiam o fim dos bombardeios.
Nenhuma confiança no governo israelense
O fim dos bombardeios sobre Gaza após 42 dias é importante por vários aspectos, como a possibilidade de reorganização mínima do sistema de saúde, o reencontro das famílias e até para resistência se reagrupar e com essa pausa, o movimento internacional de apoio à luta palestina também pode reforçar as mobilizações nos vários países contra essa absurda ocupação israelense.
Mas, o governo israelense não é de se confiar. Esse recuo não foi espontâneo, foi por conta de uma forte pressão que sofreram, internamente e externamente. Três exemplos de que não merecem confiança, foram o bombardeio com o assassinato de mais 110 palestinos (outra vez, várias crianças) mesmo depois do anuncio do acordo. Quando houve a trégua com Líbano também fizeram vários ataques contra a população próxima da fronteira e por fim, as operações militares na Cisjordânia, outra cidade palestina ocupada militarmente por Israel, com várias prisões de palestinos e palestinas.
A extrema-direita israelense exerce uma pressão grande contra o governo de Nethanyau e como estão contra a trégua, estão fazendo várias ameaças de interromper o trafego de caminhões levando ajuda humanitária para Gaza.
E como se não bastasse tudo isso, ainda tem o fato de Israel ter um histórico de violação de acordos (como o de Oslo) e das resoluções da ONU.
Por todas essas contradições, o acordo é muito frágil e, por isso, de imediato, a mobilização mundial em favor do povo palestino e pelo fim de qualquer agressão israelense é fundamental. Mas, sabemos que, enquanto existir Israel, acontecerão outras agressões. A luta pela libertação nacional da Palestina precisa continuar com nosso apoio e nossas ações até a derrota de Israel e o fim da ocupação da Palestina histórica.